2015/11/25

O "Guião" responde - entrevista ao "Diário da Manhã"


 Extraída do Jornal Diário da Manhã de 1 de Junho de 1949, esta entrevista, que apresentamos na íntegra, explica os princípios subjacentes à criação do Guião – Revista para Graduados, desde a escolha do título até ao seu conteúdo.

“O “Guião” responde “Presente!” a novas vocações jornalísticas e ao anseio juvenil de continuar para o Futuro os rumos da Revolução Nacional

Mocidade significa novidade, espírito sempre novo, sempre remoçado. Mocidade significa, antes do mais – e este País tem-no aprendido agradavelmente no decorrer da última década – insofrida insatisfação, constante desejo de aperfeiçoamento, de conquista.

Quando as coisas novas que um dia foram surpresa parecem tornar-se rotineiras, quando aquilo que há dez anos se suponha impossível se tornou já, de modo indiscutível, uma realidade quotidiana, os rapazes “inventam” algo de novo, abrem novas clareiras á sua frente – e ei-los a demonstrar com o vigor e a audácia das almas de quinze ou dezoito anos, que nem tudo estava feito, que muito havia ainda a fazer.
Tal é, na verdade, o motivo da existência do “Guião”, revista dos graduados da Mocidade Portuguesa, cujo primeiro número se publicou há dias – no “28 de Maio” – graças ao entusiasmo de alguns comandantes de “castelo” e de “bandeira”, saídos não há muito da Escola Central de Graduados.

O “Guião” – uma capa expressiva, optimista, sadia e um formato simpático, atraente, a guardar muita coisa que interessa realmente aos rapazes – tem como director o comandante de Falange António Pinto Castelo Branco, nome bem conhecido e querido nas fileiras da M. P., entre os camaradas e entre os dirigentes.

Como redactores, todos os graduados que queiram escrever, todos quantos respondam á chamada que lhes foi feita, para, sustentando e erguendo bem alto o “Guião”, sustentarem e alevantarem ainda mais os princípios da M. P., a legenda que enobrece a ínclita geração e enobrece Portugal – universalizando-o até ao Infinito: “Honra, Dever, Serviço, Sacrifício”.
Se por um lado nos encontramos perante mais um acto de fé da Mocidade no prosseguimento da obra da Revolução Nacional, não há dúvida que esta iniciativa dos rapazes representa, pelo menos da parte de alguns, o delinear de uma vocação jornalística que pode deixar-nos indiferentes, nem constitui surpresa. Há na Mocidade lugar para todos – lugar para todas as vocações.

Como jornalistas que se prezam, os redactores desta revista dos graduados têm o seu chefe de redacção – o comandante de Bandeira Francisco Elmano da Cruz Alves, aluno da Faculdade de Direito de Lisboa, quase a transpor já os humbrais do primeiro ano.

Procurámo-lo para o ouvir sobre o “Guião”. Ouvimo-lo a ele, ao Castelo Branco, ao Carlos Lima. Ouvi-los, foi auscultar as aspirações generosas da geração nascida a-aquando ou depois do “28 de Maio” e que sente como que o instintivo dever de reagir contra toda e qualquer tendência de esquecimento do caminho percorrido e das dificuldades do percurso.

Do que ouvimos, aqui deixamos breve apontamento:

- Não julgue que fazemos uma revista pelo simples prazer de escrever ou pelo gosto de sermos lidos. O Guião surge como resposta á pergunta que tantos dos nossos camaradas das Escolas de Graduados constantemente nos faziam: “Porque não prolonga a Escola a sua ação para além dos cursos?”

Francisco Elmano Alves esclarece:
- Com efeito, quando o filiado chega à Escola de Graduados vem geralmente cheio de dúvidas e de problemas que, afinal, dentro em pouco se encontram resolvidos, não só porque a matéria dos cursos já os prevê, mas sobretudo porque se criam novos e mais vastos horizontes no nosso espírito, isto é, desenvolvem-se nele a capacidade de realização e a decisão.

- O pior – intervém Carlos Lima – o pior é, muitas vezes, quando os novos graduados regressam ao contacto com a vida dos Centros…

- Porquê?

- Porque o ambiente é, como não podia deixar de ser, diferente daquele em que viveram durante o curso. Aqui e além, o entusiasmo rareia. Faltam dirigentes. Surgem milhentas dificuldades. O graduado sente-se, muita vez, sozinho perante novos e mais difíceis problemas. E tem quase sempre, nesses casos, que tratar de tudo, desde o pano das barracas até… á falta de verba. Nessas condições – e nós falamos por experiência própria – os graduados encontram-se em pleno no “campo de prova”. E é então que se torna mais necessário do que nunca acarinhá-los, dar-lhes todo o estímulo, manter neles o sentimento da força que constitui a nossa unidade, do calor que representa a nossa camaradagem – tudo o que seja, numa palavra, o prolongamento da vida e do clima moral da Escola.

E o “Guião” vem ao encontro dessa necessidade: há-de procurar satisfazê-la o melhor que puder – o melhor dentro do limite das possibilidade – pois não sonhamos com impossíveis…
- Pode saber-se como tencionam alcançar esses objetivos?

- Estamos já a alcançá-los, Graças a Deus, o nosso “Guião”, mesmo antes do aparecimento do primeiro número, provocou um despertar de energias que há-de continuar e progredir. O que pretendemos é levantar problemas que interessam á juventude, agitando-os sem reserva e chamando os graduados á sua resolução.

- Mas que problemas?

- Todos os que interessam á juventude. Todos os que se prendem com a “formação integral” do rapaz português, isto é com a esfera de acção educativa da Mocidade Portuguesa – esfera bem vasta, a abranger, literalmente, como lhe disse tudo o que de perto ou de longe interessa ou diz respeito á gente nova.

- Concretamente…

- Tanta coisa… Desde os problemas “caseiros” do arranjo dos Centros, do melhor aproveitamento da instrução geral ou especializada, da explicação clara da orgânica da M. P., até aos grandes problemas de ordem geral, de formação de uma mentalidade imperial, de conhecimento e divulgação da cultura portuguesa, do amor às coisas portuguesas, de defesa dos rapazes contra os perigos da sobrevivência de uma sociedade aburguesada, que nos aparece como superficialmente convertida a certas verdades fundamentais da Revolução que criou a Mocidade Portuguesa e que a Mocidade há-de continuar e perpetuar.

- A iniciativa partiu de Lisboa?

- Sim, mas caiu entre os rapazes de todas as Províncias como peixe na água. Além do entusiástico acolhimento dos nossos camaradas, houve o natural interesse de muitos dirigentes. E queremos pedir-lhe para registar um nome – o do nosso Instrutor António Fialho Rico, que desde a primeira hora nos ajudou a tornar realidade esta aspiração. É também a altura de lhe dizer do reconhecimento que devemos ao nosso Comissário Nacional, ao major Ribeiro Viana, nosso Director de Serviços e ao Inspector Baltazar Rebelo de Sousa. Estamos absolutamente dispostos a honrar a confiança que puseram em nós e a ir para diante, custe o que custar.

- Uma última pergunta: qual a razão do título?

- Há durante o curso das Escolas de Graduados dois momentos inesquecíveis para os rapazes que os frequentam. O mais importante é, sem dúvida, o da entrega das divisas de comandante de castelo ou de bandeira, ao fim de vencidos todos os obstáculos, todas as provas. Mas a entrega do guião da Escola – dessa bandeira rubra que traz em si todo um programa de nobreza de alma e de espírito de bem servir, não fica atrás, em significado moral, em emoção, e representa verdadeiramente para o futuro graduado, o início da sua carreira. Por isso escolhemos para o nosso jornal o nome que melhor o poderia distinguir….

Têm razão. E agora só nos cumpre desejar-lhes que o seu programa se realize em toda a extensão de que são capazes os espíritos sinceros e vibrantes dos nossos graduados da Mocidade.”


P.M.