2019/09/25

Alexandre Herculano - Patrono


Alexandre Herculano (1810-1877)



Desde a criação do Liceu Alexandre Herculano, em 1906/1907, até à atualidade, como sede de Agrupamento de Escolas Alexandre Herculano, esta instituição de ensino do Porto sempre ostentou o nome do pensador/historiador como patrono.

Quem era Alexandre Herculano? A sua educação literária começou com o estudo do latim e latinidade nas aulas dos padres congregados de S. Filipe Nery, do hospício das Necessidades, sendo seu mestre o padre Vicente da Cruz.  Preparava-se para continuar os preparativos indispensáveis para a matrícula na Universidade de Coimbra, mas em 1827, cegando seu pai, e sofrendo seu avô materno um grande revés da fortuna, pela falta de pagamento de somas importantes de que era credor como mestre nas obras da Ajuda, faltaram-lhe os recursos; contudo, Alexandre Herculano não desanimou do seu propósito de se ilustrar, e conseguiu aprender particularmente as língua francesa, inglesa e alemã, matriculando-se no primeiro ano da Aula do comércio em 1830, seguindo o curso de Paleografia, a que então se chamava Diplomática, na Torre do Tombo, regido por Francisco Ribeiro Dosguimarães, no ano lectivo de 1830-1831.

Desta época data a primeira revelação que teve da literatura alemã, que lhe fez a Marquesa de Alorna, como ele próprio confessa na biografia que escreveu daquela ilustre senhora. Contava 21 anos, e já o jovem estudante, com os conhecimentos variados que adquirira, bem mostrava que a sua mocidade fora bem dedicada ao estudo. Animavam-se então naquela época os ânimos políticos; a guerra civil com todos os seus horrores absolutistas, enchia de presos as cadeias do reino só pelo crime de serem liberais, e nas praças públicas eram os patíbulos levantados consecutivamente.

Alexandre Herculano viu-se obrigado a interromper os estudos para seguir a voragem da revolução; inimigo de todas as opressões, e estrénuo defensor da liberdade, uniu-se aos constitucionais, e sendo implicado na malograda revolta de infantaria n.º 4 em 31 de agosto de 1831. Por Decreto de 17 de julho de 1833 foi nomeado segundo bibliotecário da Biblioteca Pública do Porto, e exercia ainda esse cargo, quando rebentou a 10 de setembro de 1836 o movimento em Lisboa contra a Carta Constitucional. Herculano mandou logo no dia 17 um ofício ao presidente da câmara municipal dando a sua demissão, dizendo que partia para Lisboa, porque prestara a maior fé à Carta Constitucional.

Em 1843 efectuou-se novo contrato, e os Panoramas de 1853 e 1854 têm muitos artigos de Alexandre Herculano, que mais tarde se publicaram em livros. Em 1852, conjuntamente com o marquês de Niza, fundou o jornal político O País, em que fez veemente oposição ao governo. Dois anos mais tarde organizou outro jornal, intitulado O Português. A Academia Real das Ciências intentou a publicação dos Monumentos históricos de Portugal, desde o século VIII até ao século XV, começando por distribuir em épocas os trabalhos de indagação e catalogação dos mesmos monumentos, e devendo a primeira parte abranger os do século VIII até ao ano de 1280. Esta obra Importantíssima foi encetada, e compunha-se de três partes: Escritores, Diplomas e Cartas, Leis e Costumes.

Alexandre Herculano havia sido nomeado sócio correspondente em 21 de fevereiro de 1844, efectivo em 13 de fevereiro de 1852 e de mérito em 14 de junho de 1850. Ninguém mais habilitado do que ele poderia ser chamado para um trabalho daquela ordem, para o qual eram precisos grandes conhecimentos de diplomática e de paleografia, e a maior prática de rever arquivos. Em 6 de junho do 1853 saiu de Lisboa Alexandre Herculano, em direcção à Beira, onde até setembro visitou todos os arquivos e bibliotecas. 

Sendo em março de 1856 nomeado guarda-mor da Torre do Tombo, Joaquim José da Costa Macedo, que pouco tempo antes pedira a sua exoneração de sócio e de secretário perpétuo da Academia, por grandes desinteligências que o tornavam incompatível nesta corporação com alguns dos seus colegas, Alexandra Herculano declarou terminantemente na sessão de 31 do referido mês, que em vista daquela nomeação, não podia voltar à Torre do Tombo, em consequência da incompatibilidade de privar com o novo guarda-mor; e como os seus trabalhos para a publicação dos Monumentos Históricos exigiam as suas frequentes visitas ao arquivo nacional, resignava os serviços que poderia prestar, e assim demitia-se do cargo de vice-presidente, e até mesmo de sócio.

A Academia em 9 de outubro do mesmo ano, deu-lhe novo diploma de sócio, que ele aceitou, e em dezembro tornou a elegê-lo vice-presidente. Herculano, numa carta datada de 27 deste mês, não só persiste na resolução de não ocupar a vice-presidência, mas declara-se morto para as letras, enquanto se achar colocado pelos poderes públicos entre a humilhação e o silêncio, entre a desonra e a abstenção, porque a pátria tinha o direito de exigir tudo de seus filhos, menos o aviltamento. Foi esta a razão por que deixou os Monumentos Históricos e a História de Portugal, em que também trabalhava, e a vida activa das letras, entregando-se à agricultura na quinta do Calhariz, pertencente aos duques de Palmela, no concelho de Sesimbra, que por esse tempo trazia arrendada, indo desterrar-se mais tarde, em 1867, para Vale de Lobos, onde se conservou até falecer. 

Em 8 de outubro de 1857 fora aposentado o guarda-mor da Torre do Tombo, e Alexandre Herculano tinha de novo aberta a porta daquele arquivo público, e como sócio da Academia, que se encarregara dos Monumentos históricos, voltou à sua tarefa até 1873, mas por sua morte deixou incompleta, apesar de ficarem muito adiantadas as três partes. A História da Inquisição, e a maneira como descreve no 1.º volume da História de Portugal a batalha de Ourique, negando a aparição de Cristo ao fundador da Monarquia, levantaram contra ele as iras de todo o clero, que não se fartava de o invectivar por toda a forma, tanto em folhetos, como em jornais religiosos, e até nos próprios púlpitos, chegando a acusá-lo de inibidor das glórias portuguesas.


Os últimos anos da sua vida foram quase dedicados aos trabalhos agrícolas, prestando assim grandes serviços à agricultura. Poucas vezes vinha à Lisboa, e a última vez foi no primeiro de setembro de 1877 para visitar o imperador do Brasil, retirando-se para Vale de Lobos já, bastante doente, falecendo no dia 13, conforme dissemos. O seu cadáver ficou depositado na igreja da Azóia, em Santarém, no jazigo do general Gorjão, e no dia 15 realizaram-se exéquias solenes, a que concorreu muita gente de Lisboa, representantes de toda a imprensa periódica, de corporações, da Academia Real das Ciências, deputados, ministros, etc. Suas Majestades, o Rei D. Luís e Senhora D. Maria Pia, também se fizeram representar. Em 1888 foi colocado, no Mosteiro dos Jerónimos no centro da Sala do Capítulo, o túmulo de Alexandre Herculano delineado por delineado por Eduardo Augusto da Silva. Em 1940 é modificado, sendo deixada singelamente apenas a arca tumular.


 P. M. 



BIBLIGRAFIA:


COENTRÃO, Abel (2019). Reabilitação do liceu Alexandre Herculano não teve concorrentes [em linha]. Lisboa: Jornal Públio [Consult. 5 maio de 2019]. Disponível: https://www.publico.pt/2019/01/03/local/noticia/reabilitacao-liceu-alexandre-herculano-nao-concorrentes-1856566


DICIONÁRIO HISTÓRICO (s.d.). Carvalho e Araújo (Alexandre Herculano de). [em linha]. [Consult. 5 de maio de 2019]. Disponível: http://www.arqnet.pt/dicionario/herculanoalex.html


DIREÇÂO-GERAL DIO PATRIMONIO CULTURAL (2003). Liceu Alexandre Herculano [em linha]. [Consult. 5 de maio]. Disponível: http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/6853117/


NÓVOA, António (coord.) (2003). Liceus de Portugal: histórias arquivos memórias. Lisboa: ASA.