2021/07/29

Caminhos Portugueses de Peregrinação a Santiago de Compostela


O Caminho Português de Peregrinação a Santiago de Compostela está em avaliação fazendo parte das listas indicativas para a candidatura de Bens a Património Mundial em Portugal.

Neste momento, a Associação Espaço Jacobeus (AEJ) está a trabalhar junto da UNESCO para conseguir esta classificação já em 2021. Neste sentido, têm sido melhorados os trajetos, uma vez que não existe uma autoridade reconhecida oficialmente como responsável. Foi declarado o primeiro Itinerário Cultural Europeu em 1987, sendo que as áreas espanhola e francesa deste Caminho já são património mundial, o que ocorreu respetivamente em 1993 e 1998.

Apesar de ter caído no esquecimento, nos anos 80 o Caminho ganhou novo fôlego, não apenas como itinerário religiosa, mas também como itinerário cultural e espiritual. Os percursos espalham-se por toda a Europa e juntam-se no caminho espanhol.

Os Caminhos de Santiago são percursos efetuados por peregrinos até Santiago de Compostela. Existem registos desde o século IX para ver as relíquias do apóstolo e a Catedral em que se encontram. A origem do culto a Santiago é desconhecida, mas pensa-se que deriva de uma peregrinação pagã.

De acordo com as tradições locais foi em Iria Flávia, a 20 km a sudoeste de Compostela que Santiago pregou pela primeira vez durante a evangelização da Península Ibérica, cerca de 34 d. C. O apóstolo foi decapitado na Judeia e posteriormente transportado para a Galiza por Teodoro e Atanásio, que depositaram os seus restos mortais no monte Libredón, onde atualmente se ergue a Catedral.

No século VIII foi encontrado este sepulcro, o que coincide com a invasão da Península Ibérica pelos Árabes. Não é de estranhar que Santiago se tenha ligado a todo o processo de reconquista cristã. Outras tradições apontam a Basílica Saint-Sernin, como o local para onde teria sido levado o corpo do Santo por Carlos Magno.

O primeiro peregrino a Santiago é, segundo a tradição, o rei Afonso II das Astúrias (c. 791-842), onde mandou construir uma igreja e se estabeleceu uma comunidade religiosa.

No decorrer dos anos, este tornou-se num dos locais de peregrinação mais visitados da Europa. Carlos Magno incentivou esta peregrinação como forma de defender as suas fronteiras do avanço árabe. Afonso III fez igualmente este caminho, ordenando a edificação de uma nova basílica.

Durante o século X desenvolve-se o Caminho Francês. O Papa Calisto II, no século XII, incentivou as peregrinações regulares a Compostela. Cerca de 1140 surge o primeiro “guia” para o local, o Codex Calistinus, atribuído ao monge Aimery Picaud, da Ordem de Cluny, onde se descrevem quatro rotas.

Após o século XIV, os peregrinos afastam-se para outros locais não só pelo processo de reconquista que exigia uma atenção redobrada dos monarcas na zona sul da Península, mas também pelo Grande Cisma do Ocidente em 1378.

Os peregrinos usam vários símbolos como é o caso de uma vieira (concha), cuja origem se atribui a algumas versões lendárias que teriam ocorrido aquando do transporte do corpo de Santiago. Apesar disso, a vieira é uma metáfora: os sulcos da concha juntam-se num ponto, o que representa as várias rotas utilizadas que confluem no sepulcro. Da mesma forma que as conchas são arrastadas pelo mar até à costa, assim Deus guia o peregrino até Compostela. A vieira é também um utensílio bastante prático pois permitia aos peregrinos beber água e comer.

O bordão é outro acessório que auxilia o peregrino na sua caminhada. Tradicionalmente tem um gancho para ser levado ao ombro com vários objetos pendurados.

Na Península Ibérica, a Via Láctea é muitas vezes designada como “Caminho de Santiago” pois teoricamente indicava o caminho para esta região durante a noite.

Os peregrinos tinham consigo uma credencial, algo semelhante a um passaporte, com 14 páginas. Devia ser carimbada duas vezes por dia em igrejas ou albergues, o que comprovava a passagem do peregrino pelas zonas em questão. Muitas vezes levavam consigo uma carta de recomendação do pároco local, funcionando como um salvo-conduto. Atualmente ainda existe este tipo de documento que deve ser solicitado pelo peregrino, facilitando o processo de alojamento.

Quanto aos caminhos, estão atualmente assinalados por setas amarelas no chão ou em muros, postes, árvores ou mesmo em marcos de granito. Destacam-se os seguintes:

- O Caminho Francês que entra em Espanha através de Roncesvalles, no sopé dos Pirenéus; a este liga-se o Caminho Aragonês com saída em Somport.

- O Caminho da Prata, com saída em Sevilha, passando por Chaves. É o caminho mais longo.

- O Caminho Primitivo com saída em Oviedo.

- O Caminho do Norte, que sai de Irúm e passa por San Sebastian.

- O Caminho Português que inclui várias alternativas: a partir de Lisboa, passa por Alhandra, Azambuja, Santarém, Golegã, Tomar, Alvaiázere, Rabaçal, Coimbra, Mealhada, Águeda, Albergaria-a-Velha, Oliveira de Azeméis, Grijó, Porto. A partir do Porto, passa Vairão, Rates, Barcelos, Ponte de Lima, Rubiães, Valença, Tui, Redondela, Pontevedra, Caldas de Reis, Padrón, Santiago de Compostela. Os caminhos portugueses juntam-se, na sua maior parte, em Valença do Minho.

- O Caminho Inglês que parte de Ferrol ou da Corunha.

 

MJS

2021/07/26

Montado, Paisagem Cultural

O Montado, paisagem cultural, encontra-se na lista indicativa para a candidatura de Bens a Património Mundial em Portugal.

O montado é um ecossistema com características únicas, característico da zona do Alentejo, em Portugal. Trata-se de um conjunto de florestas de azinheiras, carvalhos, sobreiros ou castanheiros que subsistem apenas na zona do Mediterrâneo, Argélia e Marrocos. Portugal é o país com a maior extensão de sobreiros ao nível mundial, sendo o principal exportador. Pensa-se que o nome montado deriva da expressão medieval montar, ou seja utilizar os montes comuns para pastos, madeira e caça.

O sobreiro distribui-se pelo território continental, com exceção das zonas de elevada altitude, concentrando-se no Ribatejo e Alentejo, bem como o castanheiro. O sobreiro é uma das espécies mais resistentes ao fogo, devido à sua casca de cortiça, constituindo 21% da área florestal. Trata-se de uma árvore frondosa e de grandes dimensões, podendo atingir os 25 metros de altura, vivendo cerca de 300 anos. As florestas de sobreiros são denominadas “Montados de Sobro”, resultando da ação ordeira e organizada do homem.

Desta forma, a cortiça é matéria prima primordial extraída desta espécie, o que torna Portugal o maior exportador. A extração da cortiça é feita manualmente e requer bastantes cuidados para que não seja infligido qualquer dano na árvore e só pode ser feita de 9 em 9 anos. 

Os montados são extremamente importantes para a manutenção do ecossistema, conservando o solo, melhorando a qualidade da água e produzindo oxigénio. Incluem uma biodiversidade considerável com mais de 120 espécies, incluindo o lince ibérico.

Desta forma, o Montado é uma paisagem icónica e um marco de tradições e costumes. Tem capacidade para sustentar outras atividades económicas como a criação de animais, produção de leite, apicultura, criação de cogumelos, bem como atividades de caráter turístico.

 

MJS