José
Francisco Trindade Coelho nasceu a 18 de junho de 1861 em Mogadouro, filho de
José Trindade, um pequeno comerciante e de Narcisa Rosa da Silva. Frequentou a
Escola Régia até aos 7 anos e recebeu lições particulares em casa. Com 8 anos
passou para a Escola de Travanca mas, aos 10 anos, regressou a casa devido à
morte da mãe, recebendo lições de latim.
Em
1873 foi para o Porto, sendo aluno do Colégio de S. Francisco e posteriormente
concluiu a licenciatura em Direito, em 1885. Aqui fundou dois periódicos, Porta Férrea e O Panorama Contemporâneo.
Em
1886 tornou-se Delegado do Procurador Régio no Sabugal, passando posteriormente
por Portalegre (onde fundou a Gazeta de
Portalegre e o Comércio de Portalegre),
Ovar, Lisboa e Sintra. Demitiu-se em 1907 devido ao mal-estar sentido com o
regime franquista.
Em
1891 publicou Os Meus Amores que foi
recebido com grande alvoroço da crítica. Tratava-se de um conjunto de histórias
que evocavam a vida no campo e as recordações da infância passada em
Trás-os-Montes. Divide-se em três partes: I – Amores Velhos; II – Amores Novos;
III – Amorinhos.
No que
respeita ao seu pensamento pedagógico, Trindade Coelho criticou a postura dos
professores da época, nomeadamente os castigos físicos e os programas mecânicos
inadaptados aos alunos. Estes eram ensinados sem qualquer espírito crítico e
sem formação de carácter ou civismo. O professor deveria interessar e motivar a
criança, desenvolvendo a sua criatividade.
A
criança deveria ser, assim, o centro de toda a atenção pedagógica, sendo
necessário ensiná-la de forma lúdica e de acordo com os interesses próprios de
cada idade. Foi assim que surgiu o ABC do
Povo, em 1901, obra ilustrada por artistas de renome como Rafael Bordalo
Pinheiro. Este livro foi uma fusão entre a Cartilha
Maternal de João de Deus – a recusa da soletração e a abreviatura do nome
de cada consoante- e o método tradicional, de onde retirou o ponto de partida –
o alfabeto e os monossílabos. Foi também autor de vários livros de leitura,
baseando-se no universo infantil e na realidade quotidiana.
Outra
questão fundamental foi a educação dos adultos, num país onde grassava o
analfabetismo. Neste sentido, Trindade Coelho promoveu o 1.º Congresso
pedagógico da Liga Nacional de Instrução em 1908 para se discutir o tema, analisando
causas e formas de as resolver. A reforma da instrução deveria compreender um
ensino gratuito, laico, obrigatório e de qualidade. Urgia fundar mais escolas
maternais, jardins de infância, escolas, liceus femininos e universidades
populares.
Foi
neste contexto que foram publicados os Folhetos
para o Povo e o Pão Nosso (cerca
de 1904), pequenas “enciclopédias” do saber popular, adaptadas à realidade do
povo português e transmitindo conhecimentos de história, biologia, arte,
política, ofícios, etc.
No que
respeita à educação cívica, Trindade Coelho expressou a sua opinião através da
obra Manual Político do Cidadão Português,
publicado em 1905. Defendeu a educação do povo com o intuito de formar uma
opinião individual e crítica, com plena consciência dos seus direitos e
deveres. Em 1906 surgiu a obra Primeiras
Noções de Educação Cívica, destinada ao ensino primário.
Fonte
principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto :
ASA, 2003.
MJS
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