2025/08/04

Educadores Portugueses dos séculos XIX e XX: João de Deus (1830 – 1896)

 

(Imagem do autor retirada da internet)


 

João de Deus Nogueira Ramos nasceu a 8 de março de 1830 em S. Bartolomeu de Messines, filho de José Pedro Ramos, comerciante, e de D. Isabel Gertrudes Martins. Fez os seus estudos iniciais na terra onde nasceu e ingressou posteriormente no Seminário de Coimbra.

Em 1850 abandonou o seminário e inscreveu-se no curso de Direito da Universidade de Coimbra, que viria a concluir em 1959. Durante este período de vida académica dedicou-se à escrita, tendo publicado alguns versos que lhe conferiram notoriedade no mundo das letras. Viveu sempre com grandes dificuldades financeiras e contou com o apoio dos amigos.

Em 1859 começou a exercer advocacia e continuou a publicar poesia. Em 1862 tornou-se redator do periódico O Bejense, tendo passado a residir em Beja. Até 1864 viveu aqui, colaborando com vários jornais da zona sul do país. Em 1864 regressou a S. Bartolomeu de Messines, mantendo a colaboração com a imprensa do Alentejo e Algarve.

A partir de 1868 decidiu-se a viver em Lisboa onde levou uma vida boémia, fazendo traduções e colaborando em algumas obras. Em maio de 1868 foi eleito para o parlamento como candidato independente pelo círculo de Silves, embora a sua passagem pela vida política tenha sido pouco interventiva.

Ainda em 1868 casou-se com Guilhermina das Mercês Battaglia, o que lhe proporcionou alguma estabilidade. Deste casamento nasceram quatro filhos, entre os quais João de Deus Ramos que continuou a obra do pai. Nesta fase, iniciou a publicação da sua obra poética e dramática através da coletânea Flores do campo e Ramo de Flores (1869).

Em 1876, após a morte de Feliciano de Castilho e do insucesso que envolveu o seu Método, João de Deus envolveu-se em campanhas de alfabetização. Foi neste âmbito que redigiu a Cartilha Maternal, o novo método de ensino da leitura. Em 1878, esta obra tornou-se o método nacional de aprendizagem. O educador foi publicando vários escritos de carácter pedagógico, ao longo dos anos, para complementar o seu método. Longe de ser aceite por todos, esta obra foi motivo de grande polémica no panorama educativo português com vozes a favor e contra.


(Imagem de uma das páginas da Cartilha, retirada da internet)


A novidade da Cartilha era a ausência da apresentação do alfabeto completo no início do processo de aprendizagem; a diferente seriação das letras; a apresentação gráfica das sílabas que evitava o desmembramento das palavras; o uso da silabação em vez da soletração; a eliminação de sílabas mortas; e a nova nomenclatura das letras. A par da Cartilha, concebida para uso individual e doméstico, existiam quadros parietais para serem utilizados em contexto da sala de aula. Pouco antes da sua morte, por iniciativa de Joaquim Pedro de Oliveira Martins, os quadros da Cartilha foram retirados das escolas.

Em 1882 foi fundada a Associação de Escolas Móveis, com o intuito de ensinar a ler e escrever através da cartilha em todas as povoações de Portugal, numa tentativa de atenuar o analfabetismo. Atualmente é designada Associação de Jardins-Escolas João de Deus, instituição particular de solidariedade social.

 

 

Fonte principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto : ASA, 2003.

 

 MJS


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