João
de Deus Nogueira Ramos nasceu a 8 de março de 1830 em S. Bartolomeu de
Messines, filho de José Pedro Ramos, comerciante, e de D. Isabel Gertrudes
Martins. Fez os seus estudos iniciais na terra onde nasceu e ingressou
posteriormente no Seminário de Coimbra.
Em
1850 abandonou o seminário e inscreveu-se no curso de Direito da Universidade
de Coimbra, que viria a concluir em 1959. Durante este período de vida académica
dedicou-se à escrita, tendo publicado alguns versos que lhe conferiram
notoriedade no mundo das letras. Viveu sempre com grandes dificuldades
financeiras e contou com o apoio dos amigos.
Em
1859 começou a exercer advocacia e continuou a publicar poesia. Em 1862
tornou-se redator do periódico O Bejense,
tendo passado a residir em Beja. Até 1864 viveu aqui, colaborando com vários
jornais da zona sul do país. Em 1864 regressou a S. Bartolomeu de Messines,
mantendo a colaboração com a imprensa do Alentejo e Algarve.
A
partir de 1868 decidiu-se a viver em Lisboa onde levou uma vida boémia, fazendo
traduções e colaborando em algumas obras. Em maio de 1868 foi eleito para o
parlamento como candidato independente pelo círculo de Silves, embora a sua
passagem pela vida política tenha sido pouco interventiva.
Ainda
em 1868 casou-se com Guilhermina das Mercês Battaglia, o que lhe proporcionou
alguma estabilidade. Deste casamento nasceram quatro filhos, entre os quais
João de Deus Ramos que continuou a obra do pai. Nesta fase, iniciou a
publicação da sua obra poética e dramática através da coletânea Flores do campo e Ramo de Flores (1869).
Em
1876, após a morte de Feliciano de Castilho e do insucesso que envolveu o seu
Método, João de Deus envolveu-se em campanhas de alfabetização. Foi neste
âmbito que redigiu a Cartilha Maternal,
o novo método de ensino da leitura. Em 1878, esta obra tornou-se o método
nacional de aprendizagem. O educador foi publicando vários escritos de carácter
pedagógico, ao longo dos anos, para complementar o seu método. Longe de ser
aceite por todos, esta obra foi motivo de grande polémica no panorama educativo
português com vozes a favor e contra.
A
novidade da Cartilha era a ausência
da apresentação do alfabeto completo no início do processo de aprendizagem; a
diferente seriação das letras; a apresentação gráfica das sílabas que evitava o
desmembramento das palavras; o uso da silabação em vez da soletração; a
eliminação de sílabas mortas; e a nova nomenclatura das letras. A par da Cartilha, concebida para uso individual
e doméstico, existiam quadros parietais para serem utilizados em contexto da
sala de aula. Pouco antes da sua morte, por iniciativa de Joaquim Pedro de
Oliveira Martins, os quadros da Cartilha foram retirados das escolas.
Em
1882 foi fundada a Associação de Escolas Móveis, com o intuito de ensinar a ler
e escrever através da cartilha em todas as povoações de Portugal, numa
tentativa de atenuar o analfabetismo. Atualmente é designada Associação de
Jardins-Escolas João de Deus, instituição particular de solidariedade social.
Fonte
principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto :
ASA, 2003.
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