2025/08/11

Notas avulsas sobre a coleção de Alvarás do Ensino Particular à guarda da SGEC

  

A coleção de Alvarás sobre o licenciamento de estabelecimentos de Ensino Particular, constitui uma série documental do fundo da Inspeção Geral do Ensino Particular, integrada no grupo de fundos dos Arquivos da Administração Central, da Direção de Serviços de Documentação e de Arquivo da Secretaria Geral do Ministério da Educação e Ciência. Esta série documental, desdobra-se em três subséries, designadas Alvarás dos livros “A”, “AE” e “E”. É constituída por 36 unidades de instalação e tem um âmbito cronológico de 1934 a 1980.


(Imagem do Processo 1788 relativo à Diocese de Portalegre e Castelo Branco)
 

O primeiro Estatuto do Ensino Particular, remonta a janeiro de 1931, embora a Inspeção Geral do Ensino Particular fosse criada pelo Decreto-lei nº 23 447, de 5 de janeiro de 1934. Em termos gerais, eram competências da Inspeção Geral, através de inspetores e médicos escolares, a fiscalização e regulamentação das atividades relativas à componente educativa, pedagógica e da gestão escolar dos estabelecimentos privados sob a tutela do Ministério da Educação Nacional. Os processos iniciam-se sempre com um requerimento dirigido ao Ministro da Educação Nacional, onde o proponente/ proponentes, explanam o intuito da criação de um estabelecimento de ensino – cuja tipologia pedagógica pode ser uma Sala de Estudos, Colégio, Externato, Instituto, Centro escolar, Academia, entre outras naturezas -, indicando o nome do proprietário, da designação oficial proposta para o estabelecimento e do nome indicado para o cargo do diretor escolar. O requerimento inicial deve ser instruído de uma memória descritiva do estabelecimento, acompanhada de uma relação do material escolar e pedagógico – detalhando os instrumentos para os laboratórios de Física e Química e materiais pedagógicos para as aulas de Ciências Naturais, Matemática e Geografia -, acompanhado de peças desenhadas em Ozalid (alçados, perfis, cortes e plantas na escala de 1:100 e eventualmente planta topográfica nas escalas de 1:500 ou 1:1000). Após a compilação documental, o processo era remetido para o Gabinete de Estudos e Planeamento da Acção Educativa, que após análise, o remetia para a Inspeção Superior do Ensino Particular. À Inspeção competia uma vistoria técnica, devidamente fundamentada, sobre o deferimento ou indeferimento da pretensão inicial. Não raras vezes, a Inspeção propõe melhoramentos e condicionantes para o efetivo funcionamento do estabelecimento. Os processos analisados, maioritariamente da década de `60, cessam a sua atividade na década de `70, por distintas e diversas razões. Muitos estabelecimentos particulares encontravam-se ligados à Igreja, quase sempre sobre a tutela indireta das respetivas dioceses distritais. O caso do antigo Colégio Diocesano de Proença-a-Nova (Alvará 1788), criado em outubro de 1961, que esteve sempre sobre a égide da diocese de Castelo Branco e Portalegre mereceu-nos um particular interesse, espelhando as convulsões de um período marcante na História recente. Na sequência da revolução de 1974 e particularmente, no período do apelidado Verão Quente de 1975, o antigo colégio daria lugar à Escola Secundária de Proença-a-Nova (vidé Portaria nº 724/75, de 5 de dezembro) e à correspondente Escola Preparatória (Portaria nº 791/75, de 31 de dezembro). (1) O estudo e análise deste Alvará (dos 8 volumes que constituem este processo, apenas os dois últimos se encontram na nossa posse, o que é só per si um indicador curioso), permite conhecer melhor e inferir muito de um período particularmente conturbado da nossa História Contemporânea, fazendo jus à máxima que os Arquivos, quaisquer Arquivos, não podem ser só entendidos como testemunhos custodiais ou patrimoniais de um coletivo, mas constituem simultaneamente fontes primárias para a escrita ou reescrita  da nossa História comum. Ao arquivista importa organizar, tratar e disponibilizar informação, enquanto que aos estudiosos das Ciências Sociais e da História, importa o estudo, a análise, a reflexão e a interpretação a partir das distintas fontes históricas.


A.M.

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