2022/06/06

Mulheres na ciência: Maria Odette Ferreira (1925 - 2018)

 


Maria Odette Santos Ferreira nasceu em Lisboa a 4 de junho de 1925. Foi farmacêutica, professora universitária e investigadora na área da infeção pelo VIH.

Concluiu a licenciatura em Farmácia em 1970 e doutorou-se na Universidade de Paris Sud, França. Nesta época iniciou uma colaboração com o Instituto Pasteur de Paris efetuando um estudo epidemiológico das infeções hospitalares causadas pelo bacilo piociânico. Neste âmbito identificou cerca de 20% de estirpes portuguesas não tipificadas pelo sistema de lisotipia de Lindberg.

Já na década de 80, continuou a sua colaboração com este Instituto, mais concretamente com a Unité d’ Oncologie Virale e com o Prof. Luc Montaigner. Esta parceria levou ao desenvolvimento de técnicas de deteção do HIV. Em virtude destes estudos foi identificado um segundo vírus da SIDA-LAV 2.

Em 1982, juntamente com o Prof. Leon le Minor, estudou 62 estirpes de bactérias isoladas nos hospitais portugueses. Identificou um novo bacteriófago que teria implicações filigenéticas e taxonómicas.

Em 1987 tornou-se Professora Catedrática de Microbiologia na Universidade de Lisboa e dedicou a sua atividade à investigação da infeção pelo VIH/Sida, com particular incidência no VIH tipo 2. O seu trabalho revolucionou o diagnóstico serológico e contribuiu para a expansão da investigação na área dos retrovírus.

Odette Santos foi coordenadora do programa Nacional de Luta contra a SIDA entre 1992 e 2000. O projeto com maior impacto foi o programa de troca de seringas nas farmácias, considerado pela Comissão Europeia o melhor projeto apresentado, quer pela inovação, quer pela extensão a todo o território português. O objetivo era a redução do risco de contaminação do VIH por via endovenosa.

A ela se deve a criação de Centros de Rastreio anónimos e gratuitos, bem como a criação de um centro de apoio a trabalhadoras do sexo em Lisboa. O programa CRIA – Conhecer, Responsabilizar, Informar, Agir foi igualmente criado por Odette Ferreira em 1997, numa tentativa de promover o conhecimento e informação sobre a doença perante a comunidade, melhorando a qualidade de vida dos indivíduos infetados.

Coordenou as Redes Comunitárias de Apoio em vários países da Europa, nomeadamente: Rede AIDS e Mobilidade, Rede Prevenção da SIDA e Hepatites nas prisões, Rede Children and Family, Rede Sida-Empresas, Rede European AIDS data SET, Rede Minorias Étnicas, Rede Europeia SIDA e Mulheres entre outras.

Promoveu serviços de apoio domiciliário em parceria com a Santa Casa da Misericórdia, a construção de uma segunda residência de apoio para doentes com VIH em situação precária e a primeira unidade de cuidados paliativos para doentes com VIH em Lisboa.

O seu trabalho orientou-se igualmente para a criação de Comissões Distritais de Luta contra a Sida e para a reabertura da Linha SIDA.

Recebeu inúmeros prémios e distinções: Chevalier dans l’Ordre des Palmes Academiques (1975); Chevalier de la Légion d’ Honneur (1987); Grau de Comendador da Ordem Militar de Sant’Iago de Espada e Grã-Cruz da Ordem de Instrução Pública (1988); criação do Prémio de Investigação Científica Professora Doutora Maria Odette Santos-Ferreira (2010); Medalha de Honra da Ordem dos Farmacêuticos (1989); Prémio Universidade de Lisboa (2006); Medalha de Ouro da Ordem dos Farmacêuticos (2012); colar do Prémio Nacional de Saúde (2013); Medalha de Mérito do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (2016).


MJS

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