Ana de
Castro Osório nasceu a 18 de junho de 1872, em Mangualde, filha de João
Baptista de Castro, juiz e de Mariana Osório de Castro Cabral de Albuquerque.
Viveu num meio socioeconómico abastado e culturalmente dinâmico.
Passou
a infância e adolescência na terra natal, tendo-se mudado para Setúbal em 1895.
Aqui iniciou a sua carreira literária com a publicação de artigos e crónicas no
periódico Mala da Europa.
Em
1897 começou a escrever várias obras didáticas, nomeadamente a coleção Para as Crianças (1897 – 1935) que lhe
granjearam o título da criadora da literatura infantil em Portugal. A educadora
criou um tipo de literatura para a infância de inspiração portuguesa, com um
conteúdo didático e moralizante.
Em
1898 casou com Francisco Paulino Gomes de Oliveira, escritor, jornalista e
ativista republicano do qual teve dois filhos: João de Castro Osório e José de
Castro Osório.
Em
1901 editou vários folhetos com o título A
Bem da Pátria, com o objetivo de educar as portuguesas. A emancipação
feminina e a igualdade dos sexos foram as suas linhas orientadoras. Para que
tal acontecesse era necessário modificar o método de ensino, permitindo à
mulher tornar-se economicamente independente.
Em
1902 colaborou com a revista Sociedade
Futura, juntamente com o seu marido, divulgando o movimento feminista. Em
1907 tornou-se membro da loja maçónica feminina, o Grande Oriente Lusitano, adotando o nome de Leonor Fonseca
Pimentel.
Entre
1907 e 1915 criou e participou em organizações pela defesa da mulher e da
criança: o Grupo Português de Estudos Feministas (1907) e a Liga Republicana
das Mulheres Portuguesas (1908). Entre 1907 e 1908 fundou O Jornal dos Pequeninos; entre 1909 e 1910, A Mulher e a Criança; entre 1910 e 1911 participou no jornal O Radical; entre 1912 e 1913, A Mulher Portuguesa; e entre 1915 e
1918, A Semeadora.
Apoiou
a Leis do Divórcio e as leis da Família de Afonso Costa, fundamentando-se no
problema da educação como forma de resolver os problemas sociais da mulher e da
criança.
Partiu
para o Brasil em 1911, acompanhando o seu marido, onde permaneceu até 1914. Antes
da sua partida, em 1911 fundou com Carolina Beatriz Ângelo a Associação de
Propaganda Feminista, de orientação sufragista. Para Ana de Castro Osório, as
raparigas deviam ter as mesmas oportunidades de instrução que os rapazes,
preparando-as para o futuro numa ocupação profissional ou familiar. Defendeu a
criação de escolas profissionais para formação de jovens em profissões em falta
no mercado e de escolas agrícolas femininas.
Em
1915, após a participação portuguesa na Primeira Guerra Mundial, fundou a
organização Pela Pátria, a favor dos
soldados mobilizados e das respetivas famílias. A guerra marcou uma alteração
no posicionamento da educadora que passou a focar a sua atenção na defesa dos
valores da pátria.
Em
1916 foi nomeada subinspetora do trabalho da 1.ª Circunscrição Industrial do
Ministério do Trabalho.
Ana de
Castro Osório recolheu contos tradicionais portugueses, recriou outro tipo de
contos e introduziu alguns da sua autoria. Fez igualmente um trabalho intenso
de tradução de obras dos irmãos Grimm, C. Perrault, C. Andersen, entre outros,
em colaboração com Afonso Hincher e Louise Ey. O aspeto gráfico destes pequenos
livros foi outra das preocupações, contando com ilustrações de Leal da Câmara,
Raquel Roque Gameiro, Hebe Gonçalves, Laura de Almeida Nogueira, Alfredo
Morais, etc.
O
grande objetivo da educadora foi criação de um património literário infantil de
qualidade, uma vez que este era um dos mais importantes instrumentos de
educação das crianças e mesmo do povo. O gosto pela leitura, a sensibilidade, a
fantasia e a ligação às memórias do país passavam por estas obras.
A sua
influência também se fez sentir no ensino pois foi autora de vários livros de
leitura para a 2.ª, 3.ª, 4.ª e 5.ª classes. O mais importante para Ana de
Castro Osório, que se reflete nestas obras, foi o fato de:
-
contribuir para a educação patriótica das crianças;
-
contribuir para a educação cívica;
-
incutir valores laicos;
-
enaltecer a razão e a ciência em detrimento da superstição;
-
valorizar o amor à natureza e aos animais.
Em
1920 candidatou-se com vários livros destinados às escolas do ensino primário.
Muitas dos seus livros foram adotados no Brasil, sendo necessária a respetiva
adaptação à realidade brasileira de então. Para a autora, não se podia reformar
um país sem uma missão educativa. A monarquia tinha falhado no âmbito da
educação, mas a República não estava a conseguir dar a devida importância à
reforma do ensino, utilizando manuais escolares desadequados que vinculavam
ideias do anterior regime.
A
criação de escolas, permitindo a todos o livre acesso à educação, foi um dos
seus objetivos. A escola devia ser o local de formação do povo para que se
pudesse construir uma sociedade melhor, mais humana e com menos preconceitos.
Também
durante o ano de 1920 fundou a Livraria
Editora para as Crianças e as Edições
Lusitânia, onde publicou Clepsidra
de Camilo Pessanha.
Em
1922 realizou várias conferências no Brasil que compilou na obra A Grande Aliança.
Desiludida
com o caminho da república, Ana de Castro Osório foi-se afastando da vida
pública e da escrita até ao seu falecimento em 1935.
Fonte
principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto :
ASA, 2003.
MJS
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