5. Camões e a camoniana de
D. Manuel II
“Trabalhar o período dos descobrimentos, com o objetivo expresso
de ‘erguer bem alto o nome do nosso paiz, demonstrar os feitos dos Portuguezes
explica a reverência pela obra de Camões, a maior da literatura portuguesa. A
importância de ‘Os Lusíadas’, e de toda a produção de Luís de Camões,
constituirão o foco central em todo o processo de constituição da coleção.
Infelizmente o volume III, onde deveria figurar o resultado desta intensa
procura física e intelectual não chega a ser redigido pelo autor, surpreendido
pela morte a 2 de julho de 1932.”
(Maria de
Jesus Monge in D. Manuel II e os Livros
de Camões, p. 23)
Do
grande poeta que dará a conhecer ao mundo os grandes feitos dos portugueses
(Camões), D. Manuel II possuía todas as edições quinhentistas e quase todas as
publicadas nos séculos XVII e XVIII. Na verdade, relativamente às centenas de
livros quinhentistas portugueses que possuía, D. Manuel é o maior bibliógrafo
(“aquele que, com caráter de especialidade, escreve sobre livros”) de todos os
tempos. Reuniu a camoniana mais importante na posse de um particular, integrando
as mais completas edições quinhentistas e todas as sucessivas edições nacionais
e estrangeiras, até 1800. Nela encontram-se exemplares da primeira edição d’Os Lusíadas, epopeia maior da língua
portuguesa e única obra que Camões publica em vida, dedicando-a ao rei D.
Sebastião. Nela, Camões foi capaz de documentar, de modo literário, a grandeza
da conquista marítima de Vasco da Gama e os feitos e grandezas do povo
português – o povo luso – tratado como herói coletivo na obra, algo diferente
dos poemas épicos da Antiguidade. Outro ponto importante e inovador é o modo
como, nesta obra, aspetos da religião católica se misturam com elementos da
cultura greco-romana (deuses e musas), traço comum no Renascimento português. Contudo,
a produção literária de Camões não se esgota no género épico, com Os Lusíadas.
É importante, também, a sua produção lírica, com as “Rimas”, publicadas em
1595; o género dramático, com o seus autos e comédias (“Filodemo” e “El-Rei
Seleuco”) e o didático, com as suas “Cartas”, inicialmente publicadas na sua
obra “Rimas”.
“[…] a obra de Camões foi sendo editada em conformidade com o
espírito de cada época. Apesar de todos os períodos se revelarem marcados pelo
forte predomínio da publicação de ‘Os Lusíadas’, existem épocas em que a Lírica
(ou mesmo o Teatro) são objeto de mais interesse; por fim, a obra de Camões
surge publicada em conjunto, atestando a ideia de autor completo. A mesma
variação é visível através dos diferentes tipos de edições, que ora surgem em
registo de modéstia material, ora ganham uma feição ‘monumental’ e
celebrativa.”
(José Augusto C. Bernardes in D. Manuel II e os Livros de Camões, p. 34)
6. A importância do legado
de Camões
“Por motivos muito variados, no início de século XX, o período
de Quinhentos era visto como a idade dourada não só da história de Portugal
como da literatura que se escreveu em Português. Nessa medida, Camões era não
apenas o cantor das glórias nacionais, mas também o profeta de grandezas
futuras. No tempo de D. Manuel II, ler e estudar ‘Os Lusíadas’ constituía assim
um exercício obrigatório para quem desejasse evocar o esplendor do século das
descobertas e das conquistas, tomando-o como certeza de que o sentimento de
declínio que parecia ter tomado conta do país era, afinal, reversível.”
(José
Augusto C. Bernardes in D. Manuel II e os
Livros de Camões, p. 32)
Tendo
nascido na primeira metade do século XVI (1524 ou 1525), estima-se que Camões
terá morrido por volta de 1579 ou 1580, tendo-se então tornado o maior escritor
da renascença portuguesa. Desde essa data, que são inúmeras as pessoas
interessadas em estudar a vida e a obra de Camões; vultos da cultura e
literatura portuguesa como Jorge de Sena; Costa Pimpão; Agostinho de Campos;
António Sérgio; Teófilo Braga; Carolina Michaëlis; Fidelino de Figueiredo;
Gonçalo Lopes Vieira; José Maria Rodrigues; Brito Aranha; Oliveira Martins; o
Visconde de Juromenha; Faria e Sousa, etc. etc.
O
legado de Camões – de profundo significado literário, histórico, cultural e
artístico –, torna-se, a cada passo, objeto de novos estudos, exposições,
conferências e publicações. Poeta de feitos e de desventuras nacionais, Camões muito
contribuiu para dar a conhecer ao mundo os grandes feitos dos portugueses na
gesta dos mares e dos descobrimentos, enaltecendo, a um mesmo tempo, as
virtudes, a importância e nobreza da língua portuguesa.
A
celebração cultural dos 500 anos do seu nascimento vem promover o apreço
contínuo e renovado pela sua obra, incentivando a reflexão sobre a riqueza e
diversidade da herança histórica deixada por Camões. Cumpre, à geração do
presente, resgatar o seu enorme talento poético e a capacidade ímpar de nos
surpreender.
Luís
de Camões morre em 1580, sendo enterrado, segundo Faria e Sousa, numa campa
rasa na Igreja de Santa Ana, ou no cemitério dos pobres do mesmo hospital,
segundo Teófilo Braga. Depois do terramoto de 1755, foram feitas várias
tentativas frustradas para se reencontrar os despojos de Camões. A ossada,
depositada em 1880 no túmulo que se encontra no Mosteiro dos Jerónimos, em
Lisboa, é com toda a probabilidade de outrem.
Três
anos após a revolução de 25 de abril de 1974, de que agora se comemoram os “50
anos”, Camões foi associado publicamente às comunidades portuguesas de
além-mar, tornando-se a data da sua morte o “Dia de Portugal, de Camões e das
Comunidades Portuguesas”.
D.
Manuel II morre em Inglaterra, em 1932, com apenas 43 anos de idade devido a um
edema da glote e encontra-se sepultado no Panteão Real da Dinastia de Bragança,
no Mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa.
Nas
palavras do Professor Doutor José Augusto Bernardes (op. cit., pp. 37 e 38): “No século XXI, Camões continua a ser
editado: em formato de livro, como tem vindo a suceder desde 1572, mas também
em formato eletrónico ou digital. […] porém, e contra algumas previsões e
expectativas, o culto camoniano mantém-se vivo”.
JMG
REFERÊNCIAS
E SUGESTÕES:
(BIBLIOGRAFIA,
WEBGRAFIA e ILUSTRAÇÕES)
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Viçosa: Fundação da Casa de Bragança.
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WIKIPÉDIA
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[Consult. 26.06.2024]. Disponível: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_de_Cam%C3%B5es
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