2020/12/07

Património imaterial de Portugal: Caretos de Podence

O Carnaval da aldeia de Podence, no concelho de Macedo de Cavaleiros em Trás-os-Montes, é uma das ancestrais celebrações portuguesas, tendo sido considerado património cultural imaterial da humanidade pela UNESCO em 2019.

Inseridos nesta tradição estão os Caretos de Podence, imagens misteriosas e diabólicas que percorrem as ruas durante os festejos de Carnaval, brincando com os transeuntes. Trata-se de grupos de rapazes envergando trajes de franjas coloridas, chocalhos à cintura e máscaras de lata ou couro com nariz pontiagudo. Na cabeça utilizam um capuz de onde sai uma longa cauda. As crianças seguem esta tradição e são designados por facanitos.

As origens deste ritual são incertas: alguns situam-na no período romano, outros ao Neolítico. São tradições ligadas à entrada na primavera e à necessidade de boas colheitas. Os fatos que envergam, com toda a sua cor, espelham esse regresso à vida e à cor. O Careto é, assim, a figura do “diabo à solta”, com os seus excessos de euforia após os longos meses de inverno e tudo lhe é permitido, exceto a entrada na Igreja.

A tradição esteve em risco de se perder durante os anos 60, devido à partida dos homens para a guerra e à emigração. Nos anos oitenta, com o regresso dos emigrantes e a criação da Associação dos Caretos de Podence, esta tradição revitalizou-se.

O Carnaval de Podence também conhecido por Entrudo Chocalheiro tem dois momentos fundamentais: os casamentos a fingir no Domingo Gordo e o desfile e Queima do Entrudo na terça-feira de Carnaval.

Os casamentos a fingir, ou Pregão Casamenteiro, é uma tradição em que vários populares se deslocam para os pontos mais elevados da aldeia e anunciam os “casamentos” dos solteiros da terra. Munidos de um funil de grandes dimensões, os populares fazem um noivado fictício entre solteiros cujas personalidades são absolutamente opostas. No dia seguinte ao anúncio o suposto noivo vai visitar a noiva e tomar com ela o pequeno almoço. 

A queima do entrudo encerra as festividades: durante este momento é queimada uma figura semelhante ao diabo que representa o ano que terminou e que se purifica.

Para divulgar esta tradição, foi criada em 2004 a Casa do Careto, onde se encontram pinturas de Graça Morais, Balbina Mendes e outros artistas, fotografias, fatos, chocalhos, máscaras e todos os objetos ligados a esta celebração.


MJS

1 comentário:

Miguel Moura disse...

A festa dos caretos de Podence é uma celebração que vale bem a pena conhecer. Como transmontano, orgulho-me de conhecer esta celebração que encerra um ciclo e dá entrada a um novo ciclo na Vida das gentes. Obrigado à MJS por este artigo !!

Miguel Moura