2018/10/10

Júlio Gil (1924 - 2004)


Júlio Gil, nome completo Júlio Coelho da Silva Gil, nasceu em Lisboa a 24 de abril de 1924 e, veio a falecer a 11 de abril de 2004. Foi arquiteto, ilustrador, cartunista, pintor e também escritor.

Em colaboração com os fotógrafos Augusto Cabrita e Nuno Calvet, publicou uma série de estudo sobre arquitetura portuguesa. destacam-se As mais belas vilas e aldeias de Portugal (1984) e Nossa Senhora de Portugal, santuários marianos. No dia 26 de novembro de 2014, assistimos ainda à publicação post mortem, Azulejos da Igreja de São Lourenço - Matriz de Alhos Vedros. (1)

Júlio Gil Iniciou a sua carreira de cartunista na “escola” da Mocidade Portuguesa, ao ilustrar as publicações oficiais da referida Organização. A revista Guião: cristandade, lusitanidade, ordem social, em 1957, refere e homenageia Gil da seguinte forma:


“Em fevereiro de 1945, num catálogo da exposição de desenhos do filiado Júlio Gil escrevia-se: ‘Ilustrador de grande merecimento, dotado de uma maneira muito pessoal, revolucionária e presente, tem ilustrado centenas de assuntos, criando, inventando, desenhando às mãos cheias por livros, jornais e revistas. É, atualmente, aluno da Escola de Belas Artes de Lisboa e talvez caiba à Mocidade essa sedutora responsabilidade. O Júlio Gil está a começar e bem. Não é ainda aquilo que queremos que seja mas daqui a alguns anos, quando ele for o ‘arquiteto Júlio Gil’, seja de facto aquilo que queremos’.

12 anos volvidos, esta página do ‘Guião’ vem confirmar as esperanças que a Mocidade um dia depositou em Júlio Gil ao franquear-lhe as portas do Salão Nobre do Palácio da Independência para a sua primeira exposição individual.




Para os que não creem no futuro, para os que negam a obra da Organização, esta página é um fervoroso desmentido, um irrefutável argumento contra o azedo ‘dizer mal’ dos incrédulos da nossa terra.

Agora redobram as centenas de ilustrações suas. E, como desejou o autor das linhas do catálogo, o arquiteto Júlio Gil continua a ser um nosso camarada, um artista da Mocidade.

Esta simples e pequena página quantos desenhos tivemos de pôr de lado não é, pois, mais do que um preito de amizade ao nosso primeiro artista; não um reconhecimento piegas, um elogio burguês de quem se sente aliviado por dizer que gosta dos seus desenhos; mas, antes, um reconhecimento franco, viril, com espírito M. P. - que é uma coisa que Júlio Gil faz transbordar dos seus desenhos pela sua obra dentro da Organização e fora dela.” (Guião: cristandade, lusitanidade, ordem social, 1957, p. 7).


Júlio Gil, como verificamos, começou a dar os primeiros na arte de ilustrar nas publicações da Mocidade Portuguesa, nomeadamente, em o Guião: revista para graduados, por tal, foi amplamente elogiado pela Mocidade Portuguesa com “um reconhecimento franco, viril, com espírito M. P.”

Nos anos 50, como sabemos, o contexto artístico vive uma dualidade, entre o rigor e a alegoria. Dito de outro modo, se por um lado se divulgam produções folclóricas de felicidade (por ex.: esboços de lides quotidianas), por outro, exibe-se o rigor das artes aplicadas (por ex.: elaboração e uso de parietais). Neste contexto, a sociedade apadrinhava obras do regime vigente, sobretudo as que exaltavam as virtudes, a raça e a continuidade das glórias passadas. Esta perspectiva origina arte e artistas com tendência moralizantes, em detrimento das realidades vividas.

Júlio Gil, fortemente impregnado destes ideais, deixa transparecer nas ilustrações da revista Guião atitudes apologéticas fortemente  moralizantes, quer através de orações explícitas, quer através de evocações gloriosas.

 
Para além deste aspeto didático, a nível formal, verificamos que os traços dominantes de Gil espelham uma cultura Walt Disney, bem como ideais de BD que invadiam a Europa. Nesta esteira, Júlio Gil aparece ao lado de grandes nomes das artes portuguesas, tais como, Noronha da Costa, José de Lemos e Tòssan, entre outros.


“Júlio Gil das técnicas de impressao que marcam a expressao de muitos ilustradores desta época. Grandes manchas de cor planas complementadas por um desenho de contornos negros que pretende acrescentar  apenas alguns pormenores à imagem.” (Silva, 2011, p. 124)




 
Como afirma Susana Silva, as ilustrações de Gil são datadas, facilmente reconhecidas pelas suas “cores planas” que se entrecruzam com traços espessos (manchas) e finos (pormenorizados).

Expomos as dezoito ilustrações que fazem parte da publicação periódica Guião: revista para graduados, ilustrações estas que, acompanham todo o percurso da revista, desde o seu começo 1949 (n. 1, 28 de maio 1949) até ao seu terminus, em 1953 (n. 22, fev. 1953).
As ilustrações do artigo são da autoria de Júlio Gil e publicadas no Guião: revista para graduados. 






(1) No âmbito da comemoração dos 500 anos do Foral de Alhos Vedros, o presidente da Câmara Municipal da Moita e a comissão executiva convidam para a apresentação do livro "Azulejos da Igreja de São Lourenço Matriz de Alhos Vedros", de Júlio Gil.



P. M. 


Bibliografia:



Câmara Municipal da Moita. Apresentação do livro “Azulejos da Igreja de São Lourenço” [em linha]. Moita: Município da Moita, 2014. [Consult. abril 2018]. Disponível em <http://www.cm-moita.pt/frontoffice/pages/970?news_id=125>


Guião: cristandade, lusitanidade, ordem social. A. 1949-1953

Júlio Coelho da Silva Gil. Rolho: cursilhos de cristandade, Torres Vedras, Mafra [em linha]. N. 103 (mai./jun. 2004), p. 3 [Consult. abril 2018]. Disponível em  tvedrasmafra.org/index2.php?option=com_docman&task=doc_view&gid=11&Itemid=7



Julio Gil: um artista da Mocidade. Guião: cristandade, lusitanidade, ordem social. N. 66 (mai. 1957), p. 7


Silva, Susana Maria Sousa Lopes - A ilustração portuguesa            para a infância no século XX e movimentos artísticos: influências mútuas, convergências estéticas [em linha]: [S.l.: Susana M.S.L. Silva], 2011. (Tese de doutoramento em Estudos da Criança (ramo de conhecimento em Comunicação Visual e Expressão Plástica). [Consult. abril 2018]. Disponível em <http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/19682>

1 comentário:

Victor Califórnia disse...

Bom Dia,

Possuo obra inédita de Júlio Gil provavelmente dos anos 40's que pretendo vender, gostaria de saber se estão interessados na sua aquisição.

“Maquete manuscrita” de Mascarenhas Barreto com ilustrações de originais de Júlio Gil para o livro “ALCATEIAS D’ALMA”, que julgo, e pelas pesquisas que já efectuei, nunca terá sido editado e o que existe é: rascunho da maquete para o livro + 13 desenhos de Júlio Gil que se destinavam à capa e aos capítulos de I a VII.

Maquete manuscrita para o livro “ALCATEIA D’ALMAS”
Ilustrações de “Júlio Gil”
1. – Mascarenhas Barrêto – Rascunho/Maquete
2. – Júlio Gil - Ilustrações/Desenhos (13)

Melhores Cumprimentos

O meu contacto é: victor-laranjeira@hotmail.com – Tel. 96 514 0810