2019/07/18

Afonso Domingues: o patrono


O arquitecto quatrocentista Afonso Domingues foi, desde início, o patrono da Escola de Desenho Industrial, criada na casa de João Cristiano Keil, na Calçada do Grilo, no dia 24 de novembro de 1884. O nome Afonso Domingues sempre permaneceu no nome da escola, desce a sua criação até ao seu terminus, independentemente das vicissitudes políticas. 

A vida de Afonso Domingues permanece incógnita, sabe-se, no entanto, que foi arquitecto e terá nascido em Lisboa, em meados do século XIV e faleceu em 1404. Oriundo de uma família abastada, uma vez que tinha residência numa das zonas mais caras de Lisboa, na freguesia da Madalena. Terá cegado, pouco antes da sua morte, por volta de 1401/2, quando abandonou o controlo das obras do Mosteiro da batalha (Cf. Herculano, s.d., p. 361).

Com a experiência adquirida da edificação da Sé Catedral de Lisboa, Afonso Domingues foi o mestre arquiteto a quem se ficou a dever a traça original do Mosteiro da Batalha, tendo dirigido as obras desde 1388 até 1402 (até à sua morte). Da autoria do mestre Afonso Domingues são, efectivamente, o Claustro Real e a Sala do Capítulo e, possivelmente foi o autor do projeto da Sé Catedral da Guarda.

“Estai quieto; estai quieto, mestre Afonso — disse Frei Lourenço, segurando o cego pelo braço. — O indigno prior do Mosteiro da Vitória não consentirá que o muito sabedor arquiteto e imaginador Afonso Domingues, o criador da oitava maravilha do Mundo, o que traçou este edifício, doado pelo virtuoso de grandes virtudes rei D. João à nossa Ordem, se levante para estar em pé diante do pobre frade [...]” (Herculano, s.d., p. 349).

Alexandre Herculano inspirou-se em Afonso Domingues ao escrever A Abóbada: em 1401 a diacronia de Lendas e Narrativas situa-se no ano de 1401, tendo como assunto a construção do Mosteiro da Batalha, mais concretamente, a construção da abóbada da Casa do Capítulo do Convento, por Afonso Domingues que a delineou e que, apesar de cego, a concluiu, depois das obras terem sido entregues ao arquiteto Huguet.

Segundo esta lenda, Afonso Domingues quis morrer na célebre sala, em cumprimento de um voto fatal, declamando: a abóbada não caiu, a abóbada não cairá! Sabe-se hoje que a abóbada da Casa Capitular não é da autoria de Afonso Domingues, mas de David Huguet, tendo podido ser, eventualmente, reconstruída por Martim Vasques, acredita-se, no entanto que a lenda tenha um resquício de verdade:

“Aliás, devo acrescentar que embora o Mestre Afonso Domingues tenha sido o primeiro mestre, eventualmente aquele que esboçou o projecto inicial de como se desenvolveria a obra, o que hoje nos resta do monumento, sobretudo os seus espaços que ainda hoje podem ser visitados, a sua construção deve-se fundamentalmente ao Huguet. Estamos a falar do portal principal, estamos a falar da cobertura da igreja, da Capela do Fundador, do Claustro Juanino e das Capelas Imperfeitas, que foram iniciadas por Huguet” (Órfão, 2003).

Como verificamos, Afonso Domingues foi o primeiro Mestre a esboçar a edificação do Mosteiro e, por conseguinte, a acompanhar as obras iniciáticas, não obstante, foi David Huguet – catalão ou flamengo – o segundo Mestre a findar as obras e a completar a abóboda.


P.M.




BIBLIOGRAFIA:



CARVALHO, Rómulo de (1996). História do Ensino em Portugal: desde a Fundação da Nacionalidade até ao fim do Regime de Salazar-Caetano. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2.ª edição.


DIAS, Luís Pereira (1998). As outras escolas: o ensino particular das primeiras letras entre 1859 e 1881. Lisboa: Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação.


INFOPÉDIA (2019). Afonso Domingues [em linha]. Porto: Porto Editora [consult. 29 de abr. 2019]. Disponível: https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$afonso-domingues

HERCULANO, Alexandre (s. d.). Lendas e narrativas [em linha]. Lisboa: Luso Livros [Consult. 29 de abr. 2019]. Disponível: https://www.luso-livros.net/wp-content/uploads/2014/05/Lendas-e-Narrativas.pdf


ÓRFÃO, Júlio (2003). Quem terminou a Sala do Capítulo do Mosteiro foi David Huguet e não Afonso Domingues [em linha]. Lisboa: Tinta Fresca: Jornal de Arte & Cultura e Cidadania, N.º 38 (dez. 2003). [Consult. 12 de jun. 2019]. Disponível: http://www.tintafresca.net/News/newsdetail.aspx?news=2fbb7637-7210-4a4a-a917-b012d5cd37e4&edition=38



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