No ano em que se comemoram
500 Anos do Nascimento de Luís de Camões,
passam 32 anos sobre a morte de D. Manuel II (02-07-1932), um dos maiores
colecionadores, estudiosos e divulgadores do seu nome e da importância da sua
obra.
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da
lei da morte libertando
(Os
Lusíadas, Canto I)
1. Nascimento,
infância e formação
D.
Manuel II, nascido em 1889, foi o terceiro filho do rei D. Carlos e da rainha
D. Amélia. O primeiro foi D. Luís Filipe, Príncipe Real, o segundo foi uma
menina, Maria Ana, que nasceu prematura e teve muito pouco tempo de vida, e o
terceiro, nascido no Palácio de Belém, foi D. Manuel, futuro rei D. Manuel II.
D.
Manuel, junto com o irmão, usufruiu de uma educação cuidada e rigorosa, apoiada
pelos melhores professores e mestres da época (José Maria Rodrigues, Manuel
Maria de Oliveira Ramos e Alexandre Rey Colaço), seguindo horários e programas
de estudo de grande rigor e exigência. A pedido expresso da mãe, a rainha D.
Amélia, os seus professores e perceptores deviam “esquecer” o berço do príncipe
e do infante e exigir deles o cumprimento e a dedicação ao estudo, e aos
deveres, pedidos a qualquer outra criança da sua idade. O horário diário e
semanal era estipulado no início de cada ano e os cadernos e manuais escolares
dos príncipes, bem como os seus professores, acompanhavam-nos para todo o lado,
seguindo as obrigações das muitas deslocações que eram exigidas à Família Real.
Até determinada altura, D. Manuel seguiu o mesmo percurso pedagógico que o
irmão até que, o papel que esperava este último (D. Luís Filipe), começou a
pedir outro tipo de formação.
D.
Manuel II, por Henrique Medina (1948).
(Fonte: www.fcbraganca.pt)
2. Regicídio e
revolução
No
início de tarde de 1 de fevereiro de 1908, tudo veio mudar para a família real
portuguesa. Cerca das 17:00 horas da tarde, D. Manuel perde o pai e o irmão,
assassinados no Terreiro do Paço, acabando de chegar de mais uma estada em Vila
Viçosa, no Alentejo. Nesse dia, o infante estava ansioso não só por rever os
pais e o irmão, mas também porque iria assistir nessa noite à estreia da ópera
Tristão e Isolda, em São Carlos. Tendo ficado ferido apenas num dos braços, e
restando-lhe a sua mãe, D. Manuel, dadas as contingências, sobe ao trono de
Portugal para reinar poucos anos (1908-1910). Com a revolução republicana e a
implantação da república, a Família Real é obrigada a deixar o país e a
procurar o exílio.
D.
Manuel, desde tenra idade, mostrou sempre um gosto e uma apetência natural pelas
artes, a literatura e, muito especialmente, a música. Até final da vida, será
grande frequentador de concertos e récitas operáticas e, ele próprio, um exímio
executante de piano e órgão, nunca tendo perdido o contacto com o seu professor
e amigo Alexandre Rey Colaço. Desde cedo, os livros também já eram alvo do seu
interesse e paixão, pois, como refere a historiadora Maria Cândida Proença, já
em jovem D. Manuel visitava a Real Biblioteca da Ajuda e o bibliotecário
responsável, Ramalho Ortigão, mostrando grande interesse e curiosidade pelos
trabalhos aí desenvolvidos. Nas suas viagens ao estrangeiro, em visita a
parentes terá, igualmente, conhecido bibliotecas de destaque como a do tio
Aumale, Henri d’Orléans (tio da Rainha D. Amélia).
A
implantação da república e a consequente permanência no exílio, vieram trazer
ao monarca deposto a tranquilidade e a disponibilidade, não só para se dedicar
à audição e prática da sua música e compositores preferidos, mas também para a
pesquisa, recolha e análise das obras literárias (monografias, manuscritos e
outros importantes documentos) que lhe foram tão caras – um trabalho aturado e
minucioso que valeu ao monarca uma posição nos lugares cimeiros da história e
investigação da literatura portuguesa, ao lado de nomes como Barbosa Machado e
António Joaquim Anselmo.
(continua)
JMG
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