Atendendo à dispersão documental existente com extinção das ordens
religiosas e à instabilidade político-social, durante a Primeira República, é
criado o Arquivo das Congregações[1], Em 1917, a 28 de Setembro, pelo Decreto n.º
3.410, o referido Arquivo estava subordinado ao Ministério da Instrução
Pública, por intermédio da Inspecção das Bibliotecas Eruditas e Arquivos.[2]
A criação do Arquivo das Congregações é justificada pela
necessidade urgente da gestão de coleções e preservação do património
documental nacional. Este Arquivo surge com uma missão operativa bem
determinada e não um mero depósito de documentação acumulada.
Do Arquivo das Congregações religiosas farão parte documentos provenientes
das seguintes congregações religiosas:
1. Jesuítas
2. Doroteias
3. Franciscanos
4. Franciscanas
(Trinas, Missionarias de Maria)
5. Dominicanos
6. Dominicanas,
(1ª e 3ª ordem)
7. Irmãs
de Caridade
8. Padres
do Espírito Santo,
9. Irmãs
de S. José de Cluny
10. Salesianos
11. Salésias
12. Beneditinos
13. Hospitaleiros de S. João
de Deus
14. Padres Redentoristas
15. Missionários Filhos do
Sagrado Coração de Maria
16. Ursulinas
17. Carmelitas
18. Irmãs do Bom Pastor
19. Irmãzinhas do Pobres
20. Irmãs do Sagrado Coração
de Maria, (Sacré Coeur)
21. Congregação de Santa
Teresa de Jesus
22. Oblatas do Menino Jesus
23. Irmãs da Imaculada
Conceição
24. Congregação de Jesus
25. Maria
26. Freiras Servitas
Esta lista exaustiva foi retirada do Boletim Oficial do Ministério de
Instrução Pública; Ano 2, nº 20/22 (1917), também mencionado no Diário do
Governo, nº 168 de 28 setembro de 1917.
Segundo pensamos, esta listagem, poucas ou nenhumas congregações religiosas
deixam a salvo. Assim, devido à exaustividade de documentos daí provenientes
impunha-se uma gestão de informação eficiente para o Arquivo das Congregações.
A solução encontrada, grosso modo, foi a organização segundo as três grandes
tipologias das ciências da informação: a museologia, arquivística e
biblioteconomia.
No que diz respeito à gestão documental, a classificação formal dos
documentos provenientes das ordens religiosas é subdividida em sete
descritores: teologia, mística, história, biografia, pedagogia didática e
homeografia:
1. Obras
teológicas (tratados de teologia moral, escritura sacra, etc.);
2. Obras
místicas (livros de devoção, sermonários);
3. Obras
históricas (história de cada congregação, Institutum);
4. Obras
biográficas (vida de fundadores, iniciadores, patriarcas das ordens,
congregacionistas, ilustres);
5. Obras
pedagógicas (tratados de pedagogia, etc.);
6. Obras
didáticas (compêndios, livros, de estudo, etc.);
7. Hemerografia (jornais,
revistas publicadas pelas congregações, folhetos de propaganda religiosa e
política, etc.).
As sete classes provenientes da classificação usada são, por assim dizer,
testemunho de preocupações culturais e espirituais das então extintas
congregações – a biblioteca é o testemunho vivo e espiritual de uma época e
sociedade, acreditamos.
Neste contexto, assalto republicano aos documentos religiosos, fica-nos bem
patente que o perfil dos Seminários de então, ou das Bibliotecas, é de cariz
teológico e pedagógico.
Não alheios a esta realidade biblioteconómica, Bernardino Machado,
Alexandre Braga e Artur R. de Almeida Ribeiro, prologam no referido Decreto,
para fomentar — a criação do arquivo das congregações, destinado a recolher,
organizar e inventariar o espólio documental das congregações religiosas
existentes em Portugal à data da proclamação da República. Ainda assim,
frisa-se que todos os documentos podem ser consultados de forma livre ou mesmo
requisitar os documentos existentes no Arquivo, sempre que se julgar
conveniente para fins jurídicos ou administrativos.
Bibliografia:
MARQUES, A.H. de Oliveira (1997). História da 1ª República
Portuguesa: as estruturas de base. Lisboa: Estampa.
MINISTÉRIO DA INSTRUÇÃO PÚBLICA (1917). “Biblioteca e arquivos nacionais”.
in: Boletim oficial do Ministério de Instrução Pública; A.2, n. 20/22
(1917), pp. [619]-622.
PORTUGAL. Leis, decretos, etc. – Decreto n.º 3.410 [de 15
de Setembro de 1917]. Diário do Governo. 1ª Série. Lisboa. 168/17, pp. 944-945.
RIBEIRO, Fernanda (2008). “A Inspecção das Bibliotecas e Arquivos e a
ideologia do Estado Novo”. in: Estados autoritários e totalitários e
suas representações: propaganda, ideologia, historiografia e memória. Coimbra:
Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra -
CEIS20 [etc.], 2008, pp. 223-237.
WHEELER, Douglas L. (1978). “A Primeira República Portuguesa e a história”.
In: Análise Social; Vol. 14 (56), (1978), pp. 865-872.
P.M.
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