Irene
do Céu Vieira Lisboa nasceu a 25 de dezembro de 1892 em Arruda dos Vinhos,
filha de Luís Emílio Vieira Lisboa, advogado e de Maria Catarina, uma jovem camponesa.
Aos 3 anos foi abandonada pela mãe e passou a viver com a companheira do seu
pai e também sua madrinha, dividindo o seu tempo entre Lisboa e a quinta da
Arruda dos Vinhos.
Foi
educada no Convento do Sacramento onde estudou durante quatro anos, seguindo-se
o Colégio Inglês, onde entrou com 10 anos como aluna interna. Depois de um
confronto com o pai e a sua nova companheira, Irene mudou-se definitivamente
para Lisboa e ingressou no Liceu Maria Pia aos 15 anos. Apercebendo-se que a
quinta da Arruda estava a ser delapidada, pretendeu tomar a direção da casa,
mas acabou por ser deserdada. Sem qualquer fonte de rendimento, trabalhou como
governanta em casas particulares e foi viver para Belas com o seu padrinho.
Este
contexto familiar tumultuoso foi bastante importante no desenvolvimento da
autora: a ausência de vínculos afetivos e familiares na construção da sua
identidade, bem como o facto de nunca ter sido reconhecida como filha legitima
do seu pai em muito contribuíram para a sua dedicação à pedagogia infantil.
Em
1911 iniciou a frequência da Escola Normal Primária de Lisboa e em 1913 começou
a escrever para o jornal estudantil Educação
Feminina. Em 1914 concluiu o curso e lecionou em várias escolas como
professora primária. Tornou-se efetiva na Escola do Beato, onde contatou com
uma população pobre e carenciada. Este facto fez com que se centrasse nos
problemas socioeconómicos e na forma como estes podiam influenciar a instrução
e a aprendizagem, bem como na maneira de encarar a função do professor.
Com a
abertura de duas classes infantis na Escola da Tapada da Ajuda, e devido à
falta de professores especializados, a educadora preparou-se para lecionar a
crianças desta idade. Neste sentido, inscreveu-se no primeiro curso de
especialização em ensino infantil na Escola Normal de Lisboa que concluiu em
1923.
A sua experiência
profissional permitiu-lhe compreender a importância da articulação da teoria e
da prática em sala de aula. Para enfatizar este tema publicou o artigo “Escola
atraente” na Revista Escolar em 1926.
No que
respeita à sua produção textual, surgiram dois tipos de escrita: a literatura
para crianças e os textos pedagógicos, fruto do desempenho das suas funções. Em
1929 publicou O livro da 2.ª para eu ler,
com ilustrações de Ilda Moreira. Também neste ano iniciou a sua colaboração com
a Seara Nova. Durante a década de 20
foram inúmeras as publicações para os mais novos.
Entre
1929 e 1934 foi bolseira do Instituto Nacional da Educação o que lhe permitiu
prosseguir estudos em Genebra, Bruxelas e Paris. Frequentou o Instituto
Jean-Jacques Rousseau, onde contatou com figuras como Jean Piaget ou Édouard
Claparède.
Em
1933, já em Portugal, foi nomeada Inspetora-orientadora do ensino primário e
infantil. Em 1935, durante uma palestra em Coimbra, Irene Lisboa defendeu
alguns dos seus conceitos chave para o ensino: o professor devia ser autónomo e
o responsável pela mudança de paradigmas. Por outro lado, a inovação deveria
assentar quer na experiência de ensino, quer no estudo teórico. Durante este
ano começou a dar aulas de Pedagogia e Didática Especial na Escola do
Magistério Primário em Lisboa.
Devido
às suas posições, que contestavam o controlo ideológico do estado em relação
aos docentes, a educadora foi afastada dos seus cargos passando a desempenhar
funções burocráticas no Instituto de Alta Cultura. Em 1937 as classes infantis
foram extintas e Irene Lisboa foi forçada a aceitar um lugar na Escola do
Magistério Primário em Braga. Não aceitou a situação e pediu a aposentação.
A
partir de então, dedicou-se à escrita: literatura infantil, poesia, textos de
pedagogia, contos, crónicas e novelas. As suas críticas à forma de organização
do ensino e o apelo à liberdade e criatividade do pessoal docente fez com que
muitas vezes publicasse sob pseudónimos como João Falco, Manuel Soares ou Maria
Moira.
Fonte
principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto :
ASA, 2003.
Sem comentários:
Enviar um comentário