2025/06/09

Educadores Portugueses dos séculos XIX e XX: Irene Lisboa (1892 – 1958)


(Fotografia da autora retirada da internet)


Irene do Céu Vieira Lisboa nasceu a 25 de dezembro de 1892 em Arruda dos Vinhos, filha de Luís Emílio Vieira Lisboa, advogado e de Maria Catarina, uma jovem camponesa. Aos 3 anos foi abandonada pela mãe e passou a viver com a companheira do seu pai e também sua madrinha, dividindo o seu tempo entre Lisboa e a quinta da Arruda dos Vinhos.

Foi educada no Convento do Sacramento onde estudou durante quatro anos, seguindo-se o Colégio Inglês, onde entrou com 10 anos como aluna interna. Depois de um confronto com o pai e a sua nova companheira, Irene mudou-se definitivamente para Lisboa e ingressou no Liceu Maria Pia aos 15 anos. Apercebendo-se que a quinta da Arruda estava a ser delapidada, pretendeu tomar a direção da casa, mas acabou por ser deserdada. Sem qualquer fonte de rendimento, trabalhou como governanta em casas particulares e foi viver para Belas com o seu padrinho.

Este contexto familiar tumultuoso foi bastante importante no desenvolvimento da autora: a ausência de vínculos afetivos e familiares na construção da sua identidade, bem como o facto de nunca ter sido reconhecida como filha legitima do seu pai em muito contribuíram para a sua dedicação à pedagogia infantil.

Em 1911 iniciou a frequência da Escola Normal Primária de Lisboa e em 1913 começou a escrever para o jornal estudantil Educação Feminina. Em 1914 concluiu o curso e lecionou em várias escolas como professora primária. Tornou-se efetiva na Escola do Beato, onde contatou com uma população pobre e carenciada. Este facto fez com que se centrasse nos problemas socioeconómicos e na forma como estes podiam influenciar a instrução e a aprendizagem, bem como na maneira de encarar a função do professor.

Com a abertura de duas classes infantis na Escola da Tapada da Ajuda, e devido à falta de professores especializados, a educadora preparou-se para lecionar a crianças desta idade. Neste sentido, inscreveu-se no primeiro curso de especialização em ensino infantil na Escola Normal de Lisboa que concluiu em 1923.

A sua experiência profissional permitiu-lhe compreender a importância da articulação da teoria e da prática em sala de aula. Para enfatizar este tema publicou o artigo “Escola atraente” na Revista Escolar em 1926.

No que respeita à sua produção textual, surgiram dois tipos de escrita: a literatura para crianças e os textos pedagógicos, fruto do desempenho das suas funções. Em 1929 publicou O livro da 2.ª para eu ler, com ilustrações de Ilda Moreira. Também neste ano iniciou a sua colaboração com a Seara Nova. Durante a década de 20 foram inúmeras as publicações para os mais novos.

Entre 1929 e 1934 foi bolseira do Instituto Nacional da Educação o que lhe permitiu prosseguir estudos em Genebra, Bruxelas e Paris. Frequentou o Instituto Jean-Jacques Rousseau, onde contatou com figuras como Jean Piaget ou Édouard Claparède.

Em 1933, já em Portugal, foi nomeada Inspetora-orientadora do ensino primário e infantil. Em 1935, durante uma palestra em Coimbra, Irene Lisboa defendeu alguns dos seus conceitos chave para o ensino: o professor devia ser autónomo e o responsável pela mudança de paradigmas. Por outro lado, a inovação deveria assentar quer na experiência de ensino, quer no estudo teórico. Durante este ano começou a dar aulas de Pedagogia e Didática Especial na Escola do Magistério Primário em Lisboa.

Devido às suas posições, que contestavam o controlo ideológico do estado em relação aos docentes, a educadora foi afastada dos seus cargos passando a desempenhar funções burocráticas no Instituto de Alta Cultura. Em 1937 as classes infantis foram extintas e Irene Lisboa foi forçada a aceitar um lugar na Escola do Magistério Primário em Braga. Não aceitou a situação e pediu a aposentação.

A partir de então, dedicou-se à escrita: literatura infantil, poesia, textos de pedagogia, contos, crónicas e novelas. As suas críticas à forma de organização do ensino e o apelo à liberdade e criatividade do pessoal docente fez com que muitas vezes publicasse sob pseudónimos como João Falco, Manuel Soares ou Maria Moira.

 

Fonte principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto : ASA, 2003.

 

MJS


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