2025/09/01

Muitos Anos de Escolas – Volume II – Edifícios para o Ensino Infantil e Primário – Anos 40 – Anos 70 – Capítulo III – Açores e Madeira (Parte II)

 

(Imagem da lista de projetos aprovados em 1949 para a Madeira da autoria do Arquiteto Fernando Peres)


 

III – Açores e Madeira

As Escolas da Madeira

 

Desde a década de 1930 que o governo se tinha preocupado em melhorar a qualidade de vida dos Madeirenses, aumentando a rede escolar e construindo mais edifícios. No entanto, tal como nos Açores, as condições das ilhas tornavam o processo mais complexo.

Foi concebido o projeto Tipo Arquipélago da Madeira de acordo com o estudo do Arquiteto Fernando Peres, em 1949.

 

 

(Imagens desenhadas de Projetos Tipo Ilha da Madeira com 1 sala, 1 sexo e 2 salas, 1 sexo)

 

Fonte: BEJA, Filomena, et al. Muitos Anos de Escolas – Volume II – Edifícios para o Ensino Infantil e Primário – Anos 40 – Anos 70. Lisboa, Ministério da Educação – Departamento de Gestão de Recursos Educativos, 1996.


MJS


2025/08/28

Educadores Portugueses dos séculos XIX e XX: Trindade Coelho (1861 – 1908)

 

(Fotografia do autor retirada da internet)


José Francisco Trindade Coelho nasceu a 18 de junho de 1861 em Mogadouro, filho de José Trindade, um pequeno comerciante e de Narcisa Rosa da Silva. Frequentou a Escola Régia até aos 7 anos e recebeu lições particulares em casa. Com 8 anos passou para a Escola de Travanca mas, aos 10 anos, regressou a casa devido à morte da mãe, recebendo lições de latim.

Em 1873 foi para o Porto, sendo aluno do Colégio de S. Francisco e posteriormente concluiu a licenciatura em Direito, em 1885. Aqui fundou dois periódicos, Porta Férrea e O Panorama Contemporâneo.

Em 1886 tornou-se Delegado do Procurador Régio no Sabugal, passando posteriormente por Portalegre (onde fundou a Gazeta de Portalegre e o Comércio de Portalegre), Ovar, Lisboa e Sintra. Demitiu-se em 1907 devido ao mal-estar sentido com o regime franquista.

Em 1891 publicou Os Meus Amores que foi recebido com grande alvoroço da crítica. Tratava-se de um conjunto de histórias que evocavam a vida no campo e as recordações da infância passada em Trás-os-Montes. Divide-se em três partes: I – Amores Velhos; II – Amores Novos; III – Amorinhos.

No que respeita ao seu pensamento pedagógico, Trindade Coelho criticou a postura dos professores da época, nomeadamente os castigos físicos e os programas mecânicos inadaptados aos alunos. Estes eram ensinados sem qualquer espírito crítico e sem formação de carácter ou civismo. O professor deveria interessar e motivar a criança, desenvolvendo a sua criatividade.

A criança deveria ser, assim, o centro de toda a atenção pedagógica, sendo necessário ensiná-la de forma lúdica e de acordo com os interesses próprios de cada idade. Foi assim que surgiu o ABC do Povo, em 1901, obra ilustrada por artistas de renome como Rafael Bordalo Pinheiro. Este livro foi uma fusão entre a Cartilha Maternal de João de Deus – a recusa da soletração e a abreviatura do nome de cada consoante- e o método tradicional, de onde retirou o ponto de partida – o alfabeto e os monossílabos. Foi também autor de vários livros de leitura, baseando-se no universo infantil e na realidade quotidiana.


(Capa do livro ABC do Povo, retirada da internet)


Outra questão fundamental foi a educação dos adultos, num país onde grassava o analfabetismo. Neste sentido, Trindade Coelho promoveu o 1.º Congresso pedagógico da Liga Nacional de Instrução em 1908 para se discutir o tema, analisando causas e formas de as resolver. A reforma da instrução deveria compreender um ensino gratuito, laico, obrigatório e de qualidade. Urgia fundar mais escolas maternais, jardins de infância, escolas, liceus femininos e universidades populares.

Foi neste contexto que foram publicados os Folhetos para o Povo e o Pão Nosso (cerca de 1904), pequenas “enciclopédias” do saber popular, adaptadas à realidade do povo português e transmitindo conhecimentos de história, biologia, arte, política, ofícios, etc.

No que respeita à educação cívica, Trindade Coelho expressou a sua opinião através da obra Manual Político do Cidadão Português, publicado em 1905. Defendeu a educação do povo com o intuito de formar uma opinião individual e crítica, com plena consciência dos seus direitos e deveres. Em 1906 surgiu a obra Primeiras Noções de Educação Cívica, destinada ao ensino primário.

 

 

Fonte principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto : ASA, 2003.


MJS


2025/08/25

Muitos Anos de Escolas – Volume II – Edifícios para o Ensino Infantil e Primário – Anos 40 – Anos 70 – Capítulo III – Açores e Madeira (Parte I)

 

(Imagem da lista os projetos aprovados para os Açores em 1945, da autoria do Arquiteto Luís de Mello)


 

III – Açores e Madeira

    As Escolas dos Açores

 

Aquando do anúncio do Plano dos Centenários em 1941, a situação no Arquipélago dos Açores era bastante sensível devido às dificuldades de acessibilidade e ao desenrolar da Segunda Guerra Mundial.


(Imagens desenhadas de projetos Tipo Açores, com 1 sala, sexo feminino e 2 salas, 2 sexos)


Atendendo às especificidades das ilhas, era impossível cumprir os requisitos que se exigiam no continente. Em 1944 o governo decidiu adotar o tipo Extremadura, com alguns ajustes ao nível das plantas e das fachadas. Foi criado o projeto Tipo Açores, aprovados em 1945, pela mão do Arquiteto Luiz de Mello.


(Imagens desenhadas de projetos Tipo Açores, com 3 salas,  2 sexos e 4 salas, sexo masculino)


Será de salientar que nas ilhas não existiam empresas de construção civil nem eram fabricados certos materiais como cal e tijolos. Houve igualmente necessidade de adaptar os edifícios ao clima mais chuvoso, ao vento e à diminuição da luminosidade.

 

 

Fonte: BEJA, Filomena, et al. Muitos Anos de Escolas – Volume II – Edifícios para o Ensino Infantil e Primário – Anos 40 – Anos 70. Lisboa, Ministério da Educação – Departamento de Gestão de Recursos Educativos, 1996.


MJS


2025/08/21

Educadores Portugueses dos séculos XIX e XX: João de Andrade Corvo (1824 – 1890)

 

(Desenho do autor retirado da internet)

 

João de Andrade Corvo nasceu em Torres Novas a 30 de janeiro de 1824, no seio de uma família abastada, partidária de D. Miguel durante as guerras liberais.

Em 1934 a família mudou-se para Lisboa e em 1839, Andrade Corvo frequentou a Escola Politécnica. A sua educação ficou a cargo do tio, o general Nuno Augusto de Brito Taborda. Em 1844 tornou-se lente substituto da cadeira de Botânica. Frequentou igualmente a Escola do Exército, onde concluiu Engenharia militar.

Dedicou-se à escrita e à divulgação da sua visão do desenvolvimento material de Portugal, que só poderia ocorrer através da ação de especialistas técnico-pedagógicos e da reforma da administração pública e da liberalização da economia.

Após a criação do Instituto Agrícola em 1853, tornou-se professor de Economia Rural e posteriormente, diretor do Jardim Botânico. Em 1859 integrou o Conselho Superior de Instrução Pública, defendendo a mecanização e o ensino agrícola como a base da dinamização da agricultura portuguesa.

Em 1865 foi eleito deputado pelo Partido Regenerador e, em 1866, tornou-se Ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria. Durante este período fundou o Crédito Agrícola e promoveu a construção do caminho-de-ferro na região do Minho e Alto Douro.

No que respeitava à instrução primária, Andrade Corvo reconheceu a necessidade de uma distribuição mais alargada da escolaridade a ambos os sexos e a todas as classes sociais. Para tal, era preciso um aumento da qualidade e quantidade de escolas por todo país. Propôs, como tal, criar uma escola normal por cada distrito, apostar na formação pedagógica de professores, realizar inspeções escolares e organizar os currículos escolares.

Regressou à Câmara dos Deputados em 1869 e em 1871 foi eleito Par do Reino e Ministro dos Negócios Estrangeiros. Para Andrade Corvo, Portugal tinha um peso político bastante inferior a outras nações europeias e era imprescindível estabelecer acordos e alianças políticas e comerciais com outros países.

Em 1875 foi Ministro da Marinha e do Ultramar e implementou a Comissão Central Permanente de Geografia, tendo em vista o desenvolvimento das colónias portuguesas. Em 1879, com a queda do governo regenerador, foi afastado dos cargos políticos.

Em 1881 iniciou a carreira diplomática, tendo desempenhado um papel de relevo na Conferência de Berlim (1884-1885) e no delinear do chamado “Mapa Cor-de-Rosa”.

 

Fonte principal: Dicionário de educadores portugueses / dir. António Nóvoa. - Porto : ASA, 2003.

 

 MJS


2025/08/18

Muitos Anos de Escolas – Volume II – Edifícios para o Ensino Infantil e Primário – Anos 40 – Anos 70 – Capítulo II – Os Edifícios dos Centenários (Parte V)

 

II – Os Edifícios dos Centenários

    3. A Realização das “Fases” do Plano dos Centenários

    4. Alterações aos Projetos

 

Durante o ano de 1944 viveu-se um período de grande carestia e racionamento de bens essenciais, tanto nas casas particulares como nas cantinas das escolas. Apesar disso, o estado mostrava algum dinamismo com construções efetuadas em diferentes áreas, desde os aeroportos até aos estádios. Desta forma, foi anunciada a execução da primeira fase do Planos dos Centenários a 13 de maio de 1944, com 561 edifícios escolares e 12 500 salas de aula previstas.


(Imagem/Tabela onde constam os totais nacionais previstos no Plano dos Centenários divididos por distritos entre as várias zonas - Norte, Centro, Lisboa, Sul, Madeira e Açores)



Até meados da década de 60 houve 5 fases do Plano dos Centenários, sempre com atrasos. Era bastante difícil encontrar terrenos disponíveis que cumprissem os requisitos básicos indicados:

- orientação entre Nascente e Sul;

- área não inferior a 2000 m2;

- planos e geologicamente compatíveis com a construção;

- pontos de água ou fácil acesso aos mesmos.

Como tal, as escolas foram sendo construídas em locais afastados das povoações e muitas sem água potável, implicando uma deslocação de vários quilómetros para as crianças.

Ao longo das diversas fases deste Plano foram sendo feitos ajustes e alterações nas técnicas de construção e aos projetos iniciais dos edifícios. Conforme as escolas foram sendo concluídas perceberam-se algumas deficiências no seu funcionamento e a falta de normalização de alguns componentes. Os cortes orçamentais levaram a alterações à traça inicial das Escolas dos Centenários.

Como exemplo, apresenta-se o Alçado principal do Tipo Beira Litoral –Cantaria, salas, como foi apresentado pelo Arquiteto Joaquim Areal e como foi aplicado.


(No topo da imagem encontra-se o desenho do edifício simplificado pelo arquiteto e em baixo, a sua aplicação prática por parte da DGCE) 


 

Fonte: BEJA, Filomena, et al. Muitos Anos de Escolas – Volume II – Edifícios para o Ensino Infantil e Primário – Anos 40 – Anos 70. Lisboa, Ministério da Educação – Departamento de Gestão de Recursos Educativos, 1996.


MJS


2025/08/14

Peça do mês de agosto/2025

 




Abre-cartas

 

Estojo com abre-cartas de marfim, com cabo metálico decorado com flores e motivos vegetalistas. Encontra-se no interior de um estojo de cartão, forrado a cetim. 

Está inventariado com o número ME/400890/15 e pertence ao espólio museológico da Escola Secundária António Inácio da Cruz.


MJS


2025/08/11

Notas avulsas sobre a coleção de Alvarás do Ensino Particular à guarda da SGEC

  

A coleção de Alvarás sobre o licenciamento de estabelecimentos de Ensino Particular, constitui uma série documental do fundo da Inspeção Geral do Ensino Particular, integrada no grupo de fundos dos Arquivos da Administração Central, da Direção de Serviços de Documentação e de Arquivo da Secretaria Geral do Ministério da Educação e Ciência. Esta série documental, desdobra-se em três subséries, designadas Alvarás dos livros “A”, “AE” e “E”. É constituída por 36 unidades de instalação e tem um âmbito cronológico de 1934 a 1980.


(Imagem do Processo 1788 relativo à Diocese de Portalegre e Castelo Branco)
 

O primeiro Estatuto do Ensino Particular, remonta a janeiro de 1931, embora a Inspeção Geral do Ensino Particular fosse criada pelo Decreto-lei nº 23 447, de 5 de janeiro de 1934. Em termos gerais, eram competências da Inspeção Geral, através de inspetores e médicos escolares, a fiscalização e regulamentação das atividades relativas à componente educativa, pedagógica e da gestão escolar dos estabelecimentos privados sob a tutela do Ministério da Educação Nacional. Os processos iniciam-se sempre com um requerimento dirigido ao Ministro da Educação Nacional, onde o proponente/ proponentes, explanam o intuito da criação de um estabelecimento de ensino – cuja tipologia pedagógica pode ser uma Sala de Estudos, Colégio, Externato, Instituto, Centro escolar, Academia, entre outras naturezas -, indicando o nome do proprietário, da designação oficial proposta para o estabelecimento e do nome indicado para o cargo do diretor escolar. O requerimento inicial deve ser instruído de uma memória descritiva do estabelecimento, acompanhada de uma relação do material escolar e pedagógico – detalhando os instrumentos para os laboratórios de Física e Química e materiais pedagógicos para as aulas de Ciências Naturais, Matemática e Geografia -, acompanhado de peças desenhadas em Ozalid (alçados, perfis, cortes e plantas na escala de 1:100 e eventualmente planta topográfica nas escalas de 1:500 ou 1:1000). Após a compilação documental, o processo era remetido para o Gabinete de Estudos e Planeamento da Acção Educativa, que após análise, o remetia para a Inspeção Superior do Ensino Particular. À Inspeção competia uma vistoria técnica, devidamente fundamentada, sobre o deferimento ou indeferimento da pretensão inicial. Não raras vezes, a Inspeção propõe melhoramentos e condicionantes para o efetivo funcionamento do estabelecimento. Os processos analisados, maioritariamente da década de `60, cessam a sua atividade na década de `70, por distintas e diversas razões. Muitos estabelecimentos particulares encontravam-se ligados à Igreja, quase sempre sobre a tutela indireta das respetivas dioceses distritais. O caso do antigo Colégio Diocesano de Proença-a-Nova (Alvará 1788), criado em outubro de 1961, que esteve sempre sobre a égide da diocese de Castelo Branco e Portalegre mereceu-nos um particular interesse, espelhando as convulsões de um período marcante na História recente. Na sequência da revolução de 1974 e particularmente, no período do apelidado Verão Quente de 1975, o antigo colégio daria lugar à Escola Secundária de Proença-a-Nova (vidé Portaria nº 724/75, de 5 de dezembro) e à correspondente Escola Preparatória (Portaria nº 791/75, de 31 de dezembro). (1) O estudo e análise deste Alvará (dos 8 volumes que constituem este processo, apenas os dois últimos se encontram na nossa posse, o que é só per si um indicador curioso), permite conhecer melhor e inferir muito de um período particularmente conturbado da nossa História Contemporânea, fazendo jus à máxima que os Arquivos, quaisquer Arquivos, não podem ser só entendidos como testemunhos custodiais ou patrimoniais de um coletivo, mas constituem simultaneamente fontes primárias para a escrita ou reescrita  da nossa História comum. Ao arquivista importa organizar, tratar e disponibilizar informação, enquanto que aos estudiosos das Ciências Sociais e da História, importa o estudo, a análise, a reflexão e a interpretação a partir das distintas fontes históricas.


A.M.