2013/01/30

O Ensino Técnico-Profissional - Origens


O ensino técnico corresponde a um nível de ensino médio realizado, normalmente, em escolas secundárias ou instituições educacionais que conferem diplomas profissionais. Lato sensu, este nível de ensino vocacional está orientado para a rápida integração do aluno no mercado de trabalho, com caraterísticas específicas que podem variar conforme o país e/ou sistema educativo.

Uma das primeiras reformas educativas, em Portugal, remonta à administração Marquês de Pombal (1750-1777), encontrando-se aí, grosso modo, as origens do ensino técnico-profissional, com a criação da Aula do Comércio em 1759. Três anos após, em 1762 no Porto, foi criada a Aula Náutica e, posteriormente, em 1779[1], a Aula de Debuxo e Desenho. Mais tarde, em Lisboa, em 1781 foi cria-se a Aula Régia de Desenho e Figura.

Através do Alvará de 19 de maio de 1759 é criada, em Lisboa, a Aula de Comércio pela Junta de Comércio.[2] Nasce, assim, em Portugal a primeira escola de comércio, que foi a primeira escola técnica criada no nosso país - a importância desta escola é inegável, na medida em que foi o primeiro estabelecimento de ensino técnico profissional oficialmente criado na Europa ou mesmo no mundo:

“A afirmação é que esta escola foi o primeiro estabelecimento de ensino oficial a ser criado no mundo especializado no ensino de disciplinas comerciais, incluindo a contabilidade por partidas dobradas. A afirmação é considerada como uma verdade aceite por muitas pessoas. Tem sido proferida em discursos sobre o ensino comercial em Portugal e sobre a legitimação da profissão contabilística, tanto em Portugal como fora de Portugal (por exemplo, em organismos externos, como a Union Européenne des Experts Comptables, Économiques et Financiers [UEC].” (Rodrigues, et al. 2010:40)

Para além desta afirmação de pioneirismo da modalidade do ensino técnico-profissional em Portugal (Rodrigues, et al. 2010:40) em relação á Europa, os documentos existentes sobre a Aula do Comércio poderão ajudar-nos a concluir que esta escola constitui uma revolução no ensino técnico-profissional na segunda metade do século XVIII. De fato, o ensino estava ligado às ordens religiosas e à universidade e passa a ser, agora, o governo Marquês de Pombal o responsável por um ensino vocacionado para as necessidades práticas – nesta escola eram lecionadas disciplinas que ainda hoje são básicas em qualquer curso de contabilidade, como bem nota Rodrigues, et al. (2003:534).

Por isso mesmo, a Aula do Comércio teve uma existência de 85 anos que, por Decreto de 20 de setembro de 1854, esta aula foi anexada ao Liceu de Lisboa, com o nome de Escola de Comércio ou secção Comercial (não sobrevivendo ás reformas liberais de Mouzinho da Silveira).




A Aula de Náutica, criada através do diploma de 30 de julho de 1762, era dirigida pela Junta Administrativa da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro e ministrava uma instrução meramente prática — ensino técnico —, completada com ensinamentos a bordo das embarcações mercantis que faziam carreira para os domínios ultramarinos. A referida Aula marcou o início do ensino público na cidade do Porto e funcionou nas instalações do Real Colégio de Nossa Senhora da Graça dos Meninos Órfãos da cidade do Porto,[3] teve como primeiro professor António Rodrigues dos Santos, nomeado em 12 de Maio de 1764.

Se a Aula de Náutica visava sobretudo práticas de pilotagem, eis que surge a necessidade de desenhar máquinas e instrumentos de locomoção e navegação, assim mesmo, surge a Aula de Debuxo e Desenho que também funcionou no referido Colégio até 1802, ano em que foi transferida para o Hospício dos Religiosos de Santo António[4].

A Aula de Debuxo e Desenho foi a primeira manifestação do ensino artístico na cidade do Porto, precursora de instituições como a Academia Portuense de Belas-Artes, a Escola Superior de Belas Artes do Porto e as atuais faculdades de Arquitectura e de Belas Artes da Universidade do Porto.

Em Lisboa, a 23 de agosto de 1781, surge a Aula Régia de Desenho e Figura[5] por iniciativa da Real Mesa Censória. Também aqui o ensino tinha um carácter muito elementar, bastando para ser-se admitido saber ler e escrever e conhecer simples operações de cálculo. O curso possuía apenas dois professores: um de desenho de história, ou de figuras e outro de desenho de arquitetura civil.

“No essencial, baseava-se na cópia de desenhos, gessos e outras gravuras. A sua inspiração era básica, pois, apenas era exigido aos alunos que viriam frequentar que soubessem ler, escrever e fossem capazes de realizar as quatro operações.” (Vasconcelos, 2010:7)”

Como verificamos, as raízes do ensino profissional mergulham em épocas distantes, encontram-se, como verificamos, ligadas às corporações de artes e ofícios ou mesmo a algumas congregações religiosas. Acima descrevemos e ilustramos três exemplos, não obstante, muitos outros poderiam ser apresentados, sobretudo, referentes ao ensino comercial e industrial. Em síntese:


“Aula Régia de Desenho de Figura e de Arquitetura, criada na capital em 1781 é inspirada no projeto portuense, na qual se ministrava um ensino elementar, baseado na cópia de desenhos e relevos, e para cuja frequência se exigia apenas que o candidato soubesse ler, escrever e executar as quatro operações aritméticas. O processo de criação da Aula de Debuxo, intimamente ligado aos interesses dos homens de negócios do Porto e considerado ‘de particular felicidade, e adiantamento das fábricas mui industriosas que nella se erigem’, pressupunha um ensino artístico baseado no desenho e orientado para as suas aplicações práticas, no âmbito das manufaturas que dele dependiam. Tanto a Aula de Debuxo como a de Náutica eram mantidas à custa da cidade, uma vez que os ordenados dos lentes, substitutos e empregados eram satisfeitos pela décima dos acionistas da Companhia das Vinhas do Alto Douro, sendo já notável a indiferença dos poderes constituídos, face à proverbial clarividência e energia da burguesia portuense.” (Goulão, 1989:22)



Bibliografia


AZEVEDO, Joaquim (1988). “Dificuldades de implementação social do ensino técnico em Portugal”. [on-line]. La sociologie et les nouveaux défis de la modernisation; (1988), p. 105-118.
[Consulta: 10 jan. 2013].

BUENO, Maria Sylvia Simões (2002). “Ensino técnico-profissional no Brasil e em Portugal na perspectiva de integração regional” [on-line]: Revista Brasileira Est. Pedagogia; Vol. 83, N.º 203/204/205 (jan/dez. 2002), p. 44/50.
[Consulta: 10 jan. 2013].


GOULÃO, Maria José (1989). “O Ensino artístico em Portugal: subsídios para a história da Escola Superior de Belas Artes do Porto”. Mundo da Arte; Nº 3 (1989), p. 21- 37.


RODRIGUES, Lúcia Lima, et al. (2010). “A intervenção do Estado no ensino comercial: o caso da Aula do Comércio, 1759 (I)” [on-line]: Contabilidade; TOC 118 (Jan. 2010), p. 39-48
[Consulta: 10 jan. 2013].


_____________ (2003). “A Aula do Comércio: Primeiro estabelecimento de ensino técnico profissional oficialmente criado no Mundo?” [on-line]: Contabilidade; Nº 34 (Jan. 2003), p. 46-54.
http://www2.egi.ua.pt/xxiiaphes/Resumos/c%20Gomes%20&%20Lima.PDF [Consulta: 10 jan. 2013].


SANTOS, Isabel Cristina de Almeida (2008). Formação e emprego: representações de alunos e professores de uma Escola Profissional de Viseu sobre a relação Escola/Emprego – um estudo de caso [on-line]. Dissertação apresentada à Universidade Portucalense Infante D. Henrique para obtenção do Grau de Mestre em Administração e Planificação da Educação, Porto 2008.
[Consulta: 10 jan. 2013].


VASCONCELOS, Emília Albertina Sá Pereira de (2010). Sofia de Sousa e o retrato [on-line]: Dissertação de Mestrado da História de Arte Portuguesa. Porto: Faculdade de letras da Universidade do Porto.


P.M., 30 de janeiro de 2013




[1] Instituída pelo decreto-lei de 27 de novembro de 1779.
[2] O principal impulsionador da Aula do Comércio foi Sebastião de Carvalho e Melo, o primeiro-ministro de Portugal na época (mais conhecido pelo título por ele adquirido em 1769 - Marquês de Pombal). Em Londres, o Marquês de Pombal tinha ficado impressionado com as políticas mercantilistas que observou enquanto enviado especial do Rei D. João V na corte inglesa do Rei George II, durante o período 1738-1743. Durante esse período ficou claro para o Marquês de Pombal que para imitar o sucesso do mercantilismo britânico, para desenvolver o comércio e a atividade económica em Portugal, e para melhorar e expandir a classe dos mercadores, seria necessário criar a Aula de Comércio. A Aula de Comércio foi criada como parte de uma ampla agenda de reformas educacionais que foram implementadas na segunda metade do século XVIII pelo Marquês de Pombal com o objetivo de melhorar o estado geral da educação em Portugal. (Cf. Rodrigues, et al. 2003:51)

[3] O Real Colégio de Nossa Senhora da Graça dos Meninos Órfãos da cidade do Porto também é conhecido, simplesmente, por Simplesmente Colégio dos meninos Órfãos. Esta denominação ficou a dever-se à existência de uma ermida nas proximidades do Colégio da invocação de Nossa Senhora da Graça, assim como aos objetivos assistenciais da instituição, fundada por Alvará Régio de D. João IV, datado de 30 de janeiro de 1650.
[4] Instalações da atual Biblioteca Pública Municipal do Porto, fundada em 1833 por ordem de D. Pedro IV, a Biblioteca ocupam as instalações do antigo Hospício dos Religiosos de Santo Antônio (Convento de Santo António da Cidade), edifício do século XVIII, hoje classificado como imóvel de interesse público – em 1842, tornando-se estabelecimento municipal em 1876. O seu acervo inicial reunia fundos bibliográficos provenientes de bibliotecas de ordens religiosas e de particulares.
[5] Também conhecida por Aula Régia de Desenho de Figura e de Arquitetura; Aula Régia de Desenho de Figura e de Arquitetura CivilCriação da Aula Régia do Desenho de Figura e Arquitectura Civil, etc.


2013/01/23

Exposição Virtual "Espólio museológico de Educação Moral e Religiosa"

Visite aqui a exposição virtual sobre objetos museológicos utilizados em Educação Moral e Religiosa.

2013/01/16

Peça do mês de janeiro


Jarro
Galo vidrado branco e vermelho (crista), que forma um recipiente com tampa (costas do animal). A cauda tem forma de pega. Está inventariado com o número ME/402618/84 e pertence ao espólio museológico da Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro.
Situada no centro da cidade das Caldas da Rainha, a Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro teve origem na Escola de Desenho Industrial Rainha D. Leonor, criada em 1884. Em 1919 passou a denominar-se Escola de Artes e Ofícios e mais tarde Escola Industrial e Comercial Rainha D. Leonor. Com a reforma do ensino técnico, a sua designação passou a ser Escola Industrial e Comercial das Caldas da Rainha e em 1973 adotou o nome atual.
Esta peça insere-se na típica cerâmica figurativa das Caldas da Rainha. Embora não se possa datar com precisão a introdução destes “bonecos” de louça, pensa-se que possam ser atribuídos a Maria dos Cacos, cuja oficina remonta ao período 1820-1850. Durante a primeira metade do século XIX, a produção de louça vidrada caldense foi pródiga em objetos inspirados na figura humana e animal, cuja forma é adaptada a funções utilitárias e/ou decorativas: castiçais, paliteiros, apitos, canecas, vasilhas, suspensões decorativas ou peças de jardim. Os animais representados com maior frequência são cães, macacos, leões, touros ou galos. Supõe-se que a oficina de Manuel Mafra, em 1853 teria tomado a de Maria dos Cacos, o que se traduziu numa forte projeção da cerâmica caldense, com a introdução de mais modelos e do aumento da qualidade e criatividade das peças (burros, porcos, gatos, aves, peixes, répteis). Rafael Bordalo Pinheiro instalou-se neste centro cerâmico com a Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, em 1884, trazendo várias inovações como o retomar da figuração humana. Estão nesta linha as representações do Zé Povinho e de outras figuras comuns (ama, polícia, sacristão, cura) ou políticas (Visconde Faria, Marquês de Franco, o Barriga). Em todas elas, o humor e a caricatura surge como marca identificadora. Bordalo Pinheiro retomou igualmente a produção dos "paliteiros” e introduziu a representação de figuras regionais, geralmente miniaturais.

Bibliografia e informação adicional:


Para consultar a história da Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro




MJS

2013/01/09

O Aparelho de Kipp no Museu Virtual da Educação


O Aparelho de Kipp no Museu Virtual da Educação


ME/805548/146
O aparelho de Kipp é um instrumento de funcionamento contínuo, utilizado nos laboratórios químicos para a produção de pequenos volumes de gases, geralmente dióxido de carbono. Foi inventado por Petrus Johannes Kipp (1808-1864), um farmacêutico de Delft, Holanda. A primeira descrição deste instrumento foi publicada num jornal holandês em 1844.

ME/400695/33
O aparelho consiste em duas ou três peças de vidro que encaixam entre si. A peça maior tem a forma de pêra com uma larga abertura esmerilada na parte superior, que termina sob a forma de um tubo cilíndrico, que permite o encaixe com a parte inferior da segunda peça de vidro. Esta última assemelha-se a uma esfera e é rematada no topo por uma abertura cilíndrica. Este instrumento tem ainda duas tubuladuras que servem para regular o desprendimento de gases.

ME/401092/96
ME/401018/394
Para a produção de sulfureto de hidrogénio (H2S), fragmentos de zinco metálico são colocados no recipiente esférico médio. Por sua vez, ácido sulfúrico diluído é introduzido no recipiente superior que comunica com a cavidade inferior do instrumento através de um tubo. Quando a abertura que se situa no recipiente esférico médio se encontra aberta (encontra-se inicialmente fechada através de uma válvula), o ácido cai pelo tubo e entra em contacto com o zinco. 
Esta mistura reage produzindo sulfureto de hidrogénio. Quando a válvula é fechada a pressão aumenta, forçando o ácido a ascender pelo tubo até ao recipiente superior. A reação e a produção de gás cessa assim que já não houver ácido em contacto com o metal. Este aparelho não é completamente satisfatório na produção de gás, pois o ácido remanescente da reacção (que contém sulfato de zinco) é misturado com ácido sulfúrico que ainda não foi utilizado (no recipiente superior), diluindo-o e fazendo com que a reacção se torne mais lenta.
  



Fonte: The Encyclopedia of Science. Laboratory Equipment. Kipp’s Apparatus.


Bibliografia:  
Museu da Ciência (2013) [em linha].
[Consulta: 8 de Janeiro 2013]

Baú da Física e da Química (2013) [em linha]
[Consulta: 8 de Janeiro de 2013]

The Story behind the name: Kipp’s apparatus (2013) [em linha]
[Consulta: 8 de Janeiro de 2013]

The Encyclopedia of Science. Laboratory Equipment (2013) [em linha]
[Consulta: 8 de Janeiro de 2013]



MJS

2013/01/02

O Amperímetro no Museu Virtual da Educação

O amperímetro é um instrumento utilizado em contexto das práticas pedagógicas no Laboratório de Física ou Electrotecnia, para efetuar demonstrações na área da eletricidade. Saiba mais sobre este aparelho aqui.