2017/04/26

Capacitar#2

O projeto Capacitar#2 irá decorrer entre 3 e 5 de maio, promovido pela biblioteca do Instituto de Educação e da Faculdade de Psicologia. Trata-se de um ciclo de debates e várias atividades em torno da arte e da criatividade, enquanto competências de capacitação. A entrada é gratuita e o evento associa-se à Junta de Freguesia de Alvalade (Alvalade - Capital da Leitura=. Para mais informações e para consulta do programa clique aqui.

2017/04/19

Peça do mês de abril

Visite aqui a peça do mês de abril.

2017/04/12

Nova publicação da BAD: "Os vocabulários controlados na organização e gestão do património cultural"

Esta publicação visa tornar-se uma ferramenta de trabalho em língua portuguesa agregando a terminologia utilizada em instituições de memória. Aqui se podem encontrar os tipos mais comuns de vocabulário e exemplos da sua aplicação. para mais informações aceda aqui ao guia.

2017/04/05

Faria de Vasconcelos - A Escola Nova - Parte I

No início do século passado, em Portugal, existiram diversos movimentos renovadores no campo da psicologia, pedagogia e assistência social. A Revolução da 1.ª República, a 5 de outubro de 1910, tentou implementar ideais políticos a nível da instrução: a diminuição do analfabetismo através da educação. Neste contexto sociopolítico emergiram reflexões sobre as necessidades de escolarização, o papel dos professores e as pedagogias a adotar nas escolas. Este ideal republicano não foi propriamente novidade, bastar-nos-á recordar o caso dos jesuítas que asseguraram a gratuitamente o ensino. Mesmo após a expulsão desta congregação, no século XVIII, o Marquês de Pombal, em 1772, levou a cabo várias reformas educativas, inclusive, criou escolas por todo o país e ultramar.

Atendendo a estes antecedentes, não admira que a pedagogia, enquanto disciplina, no início do século XX fosse um dos instrumentos didáticos em consolidação e reestruturação. Como verifica Diniz (2002, p. 1), as práticas didáticas neste período têm profunda influência em John Dewey, pedagogo que valoriza sobretudo o conhecimento empírico.[1]  



“A John Dewey teria Faria de Vasconcelos ido beber a ‘doutrina de interesses’, exposta no seu ‘Credo Pedagógico’ e pela qual não se pode sacrificar o aluno a uma adesão artificial pelas matérias, mas estas têm que se estabelecidas por forma a satisfazerem a sua curiosidade. O interesse […] aberto ao pleno desenvolvimento e acção” (Reis, 1972, p. 84).


Como verifica Manuel Reis (Reis, 1972, p. 85), Faria de Vasconcelos reconheceu a “doutrina de interesses” de Dewey, no sentido em que apelava ao uso de métodos ativos para incutir nos alunos gosto pelo conhecimento empírico e aprendizagem contínua. À escola competia promover as respetivas práticas de autodisciplina e autonomia de aprendizagem – o professor era visto como guia e modelo do aluno (magistrocentrismo). A educação era, pois, uma arma de transformação social. Esta convicção era comum a todos os pedagogos da école nouvelle[2], ou seja, a educação é por excelência o fator de transformação da sociedade.

O “credo pedagógico” da escola nova influenciou a maneira de (re)pensar a criança: esta é perspetivada na sua ação e autodeterminação. Assim sendo, a dialéctica educação/peda­gogia tornou-se o fundamento epistemológico para a transformação social, ideal este descrito por Faria de Vasconcelos nas suas investigações. Daí a sua importância, não só para Portugal, mas para a compreensão da pedagogia contemporânea:


“En educación y en instrucción el problema de los métodos de trabajo tiene una importancia capital, porque lo que importa para la vida es no solamente saber, tener conocimientos, sino sobre todo, saber utilizarlos, aplicarlos en el momento oportuno, evocarlos en la ocasión necesaria, realizarlos como y cuando la vida lo pide” (Vasconcelos, 1919,  p. 7).

Faria de Vasconcelos é, sem dúvida, um dos educadores portugueses mais conhecidos no estrangeiro. A sua é uma referência obrigatória para quem quer estudar as dinâmicas da educação nova no princípio do século XX.

Será importante salientar que, António de Sena Faria de Vasconcelos Azevedo (1880-1939) era natural do Distrito de Castelo Banco (Idanha-a-Nova), filho e neto de magistrados, tendo concluído os seus estudos secundários no Colégio do Norte, dirigido pelos padres do Espírito Santo. Em 1896 ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, adquirindo o grau de bacharel em 1901. No ano letivo de 1902-1903 matriculou-se na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Nova de Bruxelas, onde obteve uma candidature em sciences. Inscreve-se posteriormente no doctoract en sciences sociales, doutorando-se em 1904, com uma tese intitulada Esquisse d’une théorie de la sensibilité sociale.

“Faria de Vasconcelos tornou-se imediatamente uma figura emblemática do Movimento da Escola Nova à escala internacional. Não fique esquecido o facto de a Escola de Bierges-Lez-Wawre ter sido criada pelo pedagogo português a expensas suas. Ele quis mostrar à Europa e ao mundo a possibilidade e a realidade de uma Escola que realizava integralmente os princípios da pedagogia científica” (Patrício, 2010)

Como verificamos (Patrício, 2010), Faria de Vasconcelos foi um dos pilares do movimento da escola nova. No ano letivo de 1912-1913 surge como diretor da École Nouvelle, de Bierges-lez-Wavre que fundara, em outubro de 1912, no Château des Vallées. Nesta escola aplicou os princípios escola nova, tal como eram defendidos por John Dewey, G. M. Kerchenens-Teiner, E. Claparède, A. Ferrière e outros. Em 1912 tornou-se membro da Sociétè Belge de Pedotechnie. Devido à grande guerra, Faria de Vasconcelos abandonou a Bélgica e fixa-se em Genebra, local onde E. Claparède, P. Bovet e A. Ferrière criaram o Institut Jean-Jacques Rousseau, em 1912.





Faria de Vasconcelos colaborou com Claparède no Laboratório de Psicologia Experimental, onde regeu um curso de pedagogia e secretariou o Bureau International des Écoles Nouvelles, criado por Adolphe Ferrière em 1899, por indicação deste último e de Claparède.

Em 1915, atendendo à solicitação do Ministério da Saúde e Beneficência de Cuba, foi para Havana com o objetivo de aí fundar uma escola nova. Após tal tarefa, em 1917 deixou Cuba e numa missão educativa atravessou a América Latina.

Em 1920 regressou a Portugal participando na Universidade Popular Portuguesa, na fundação da revista Seara Nova (1921), e ingressando na Escola Normal Superior da Universidade de Lisboa. Em 1922 passou a reger a cadeira de psicologia geral. Em 1925 foi nomeado para diretor do então criado Instituto de Orientação Profissional Maria Luísa Barbosa de Carvalho[3]. Em 1930, com Aurélio da Costa Ferreira[4], fundou o efémero Instituto de Reeducação Mental e Pedagogia. Em 1933 na Livraria Clássica Editora criou a Biblioteca de Cultura Pedagógica, para a qual escreverá 15 volumes. 


Bibliografia:


ALVES, L. A. M. –  “República e educação: dos princípios da Escola Nova ao manifesto dos pioneiros da educação”. Revista da Faculdade de Letras-História, vol. 11 (2010), p. 165-180.


BANDEIRA, Filomena – Vasconcelos Cabral Azevedo, António Sena Faria de. Dicionário de educadores portugueses. Porto: Asa, 2003.


CRUZ, Maria Gabriel Moreno Bulas – “Antônio de Sena Faria de Vasconcelos (1880-1939): um português no movimento da ‘escola nova’". Educação em Revista, vol. 2, n. 1 (2001), p. 138-149.

DINIZ, Aires Antunes - "Faria de Vasconcelos - um educador da escola nova nas sete partidas do mundo". II Congresso Brasileiro de História da Educação - Intelectuais e memória de educação no Brasil, 2002, p. 1-12.

DUARTE, Madalena Luzia Pereira - À descoberta da escola nova de Faria de Vasconcelos. Aveiro: [s. n.], 2010. Dissertação de Mestrado apresentada à Universidade de Aveiro
  

FERREIRA, António Gomes; MOTA, Luís – “Educação e formação de professores do ensino secundário na Primeira Republica”. Exedra, n. 4 (2010), p. 33-48.


FERREIRA MARQUES, J. F. – Faria de Vasconcelos e as suas obras de psicologia e de ciências da educação. Lisboa: Academia de Ciências de Lisboa, 2012.


FIGUEIRA, M. H. –  “A educação Nova em Portugal (1882-1935): semelhanças, particularidades e relações com o movimento homónimo internacional”. História da Educação, vol. 8, n.15 (2004), p. 29-52.


FIGUEIRAS, Manuel Henrique – “A educação nova em Portugal (1882-1935): semelhança, particularidades e relações com o movimento homónimo internacional, parte I”. História da Educação, ASPHE/FaE/UFPel, n. 14 (set. 2003), p. 97-140.


FONTES, Carlos – “Pedagogos portugueses” [em linha]. História da Formação Profissional e da Educação em Portugal e Colónias: século XIX, [2016]
[consult. 25 jan. 2017].


GOMES, J. F. –  “A. Faria de Vasconcelos (1880-1939)”. Revista Portuguesa de Pedagogia, vol. 14 (1980), p. 231-255.


MARQUES, Josiane Acácia de Oliveira – “Medir, diagnosticar e reparar: o que diz o manual pedagógico de Faria de Vasconcelos sobre a aplicação de testes aritméticos”. São Paulo: Educação Matemática na Contemporaneidade: desafios e possibilidades, 2016.


PATRÍCIO, Manuel  F. ­– “A Seara Nova no itinerário pedagógico de Faria de Vasconcelos”. Seara Nova, n. 1712 (verão, 2010). [consult. 25 jan. 2017].


REIS, Manuel Pires Dias dos – Recenseamento bibliográfico de Faria de Vasconcelos: contributo para um estudo da sua acção pedagógica. Porto [s.sn.], 1972. Dissertação de Licenciatura em Filosofias, apresentada à Faculdade de Letras de Universidade do Porto.


SOUSA MACHADO, Teresa – “Faria de Vasconcelos: um pioneiro no movimento da escola nova na europa e na américa latina”. Revista Argentina de Ciencias del Comportamiento, vol. 8, n. 2 (ago. 2016), p. 115-123.


VACONCELOS, Faria de – “Ecos de la fiesta intelectual y artística de la escuela Normal: discurso-informe del director señor Faria de Vasconcelos.” Revista Pedagógica, n. 7. A. 2 (jun. de 1918), p.1-17.


VASCONCELOS, Faria de – Uma escola nova na Bélgica ; pref. de Adolphe Ferrière. Aveiro: Universidade de Aveiro, 2015.


VASCONCELOS, Faria de - Hacia el mar. Sucre: Taller Tipografico de Darís N. Pórcel, [1929].


VASCONCELOS, Faria de - O Instituto de Orientação Prosissional. Sua finalidade, organização e funcionamento. Lisboa: Oficinas Fernandes, 1935.


VASCONCELOS, Faria de – O que é e o que deve ser a educação física. Lisboa: Papelaria Maia, 1928.
VASCONCELOS, Faria de – “Syllabus” del curso de dirección y organización de las escuelas. Sucre: Escuela Normal Mixta de Preceptores de la Republica [Bolívia], 1919.

P. M. 





[1] John Dewey tenta sintetizar, criticar e ampliar a filosofia da educação democrática ou proto democrática contidas em Rousseau e Platão. Dewey denota que Rousseau valoriza o indivíduo em si mesmo, enquanto Platão acentuava a influência da sociedade na qual o indivíduo se insere. Dewey contestou esta dicotomia cognitiva. Tal como Vygotsky, Dewey concebia o conhecimento e o desenvolvimento como um processo holístico, numa dialéctica sociedade vs indivíduo.

[2] A Educação Nova foi um movimento que se desenvolveu no espaço europeu ocidental, na América do Norte e do Sul entre finais do século XIX e meados do século XX. O seu pensamento exprime-se sobretudo por práticas pedagógicas inovadoras” e, paralelamente, com um corte radical com o passado, com a educação tradicional. Os primeiros grandes inspiradores da Escola Nova foram o escritor Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) e os pedagogos Heinrich Pestalozzi (1746-1827) e Freidrich Fröebel (1782-1852). O grande nome do movimento na América foi o filósofo e pedagogo John Dewey (1859-1952). O psicólogo Edouard Claparède (1873-1940) e o educador Adolphe Ferrière (1879-1960), entre muitos outros, foram os expoentes na Europa. Em Portugal este movimento atinge o seu expoente máximo Faria de Vasconcelos (1880-1939), por sua vez, no Brasil as ideias da Escola Nova foram introduzidas já em 1882 por Rui Barbosa (1849-1923). A Escola Nova recebeu muitas críticas. Foi acusada principalmente de não exigir nada, de abrir mão dos conteúdos tradicionais e de acreditar ingenuamente na espontaneidade dos alunos. A leitura das obras e a análise das poucas experiências em que, de fato, as ideias dos escolanovistas foram experimentadas com rigor mostram que essas críticas são válidas apenas para interpretações distorcidas do espírito do movimento.

[3] No entender de Faria de Vasconcelos “Para alcançar os objectivos propostos, o Instituto [de Orientação Profissional Maria Luísa Barbosa de Carvalho] dispõe dos recursos indispensáveis, podendo dizer-se, com legítimo orgulho, que sob o ponto de vista da aparelhagem, é um dos melhores da Europa. O instituto dispõe actualmente de 14 laboratórios para os exames e investigações de medicina, fisiologia e psicologia, aplicando o diagnóstico das aptidões dos orientadores e das exigências das actividades profissionais” (Vasconcelos, 1935, p.4).

[4] António Aurélio da Costa Ferreira, natural da freguesia de Santa Luzia do concelho do Funchal, médico, antropólogo, professor e pedagogo de renome, com lugar de relevo na História da Educação em Portugal. Como educador, desempenhou um papel importante na direção da Casa Pia de Lisboa, na formação de professores, na reabilitação e integração de crianças com necessidades educativas especiais, na promoção da laicização do Ensino e na divulgação do movimento da Escola Nova em Portugal (Diário de Notícias, Funchal, 18 de Janeiro de 2004).