2016/01/27

Fernando da Silva Lima, Ilustrador

O arquiteto Fernando da Silva Lima, de nome completo Fernando José Miranda de Vasconcelos Mourão da Silva Lima, foi associado fundador número 28 da Mocidade Portuguesa e, simultaneamente, Membro do Concelho Geral da mesma Organização. Foi ilustrador, redator e diretor de uma das mais prestigiadas revistas para graduados da Mocidade Portuguesa: Guião: revista para graduados e Talha-Mar: revista para graduados (o último título é continuação do Guião).


Fernando Lima participou na revista Guião a partir da publicação número 11 de janeiro/fevereiro de 1951 até ao seu desfecho, em 20 de setembro de 1953. Nesta publicação periódica ilustrou vários artigos, orientou a secção Manta de retalhos (sobre atividades culturais diversas) e também desempenhou funções de redator.

Enquanto redator, destacamos o conto Sou capaz: um problema em que não se repara, onde Fernando Lima (Lima, 1952:9) ressalta a permeabilidade dos jovens para o ato de aprendizagem orientada: “serão […] práticas miúdas que levarão ao auto-convencimento: – ‘sou capaz!’ e, daí, à confiança em si indispensável […].” Lima (1952:18) verifica que uma das pedagogias mais eficazes para a formação de graduados é, pois, o uso de formulações doutrinárias pré-estabelecidas pelo Regime, tal como no sistema de construção em série Meccano[1]:

“Começaremos pela experienciazinha barata (entenda-se por tal a que não envolve riscos de qualquer espécie). Servem perfeitamente a construção de engenhocas (género ‘Meccano’ ou outras muitas), o microscópio que se compra e pelo qual se desperta o interesse pelas mil formas admiráveis do mundo maravilhoso da Natureza […]” (Lima, 1952:9)

O Guião findou a sua publicação em 1953, não obstante, esta publicação foi reeditava em abril de 1958 com o nome de Talha-mar: revista para graduados. Fernando Lima, então Comandante de Falange, assumiu funções de diretor desta nova revista para graduados desde o número 1 (5 abril de 1958), até ao número 12 (20 de setembro de 1958). O Comandante de Falange Mouzaco Dias substituiu Fernando Lima, e, assumiu funções de diretor a 4 de outubro de 1959, com o número 13 de Talha-mar.

A dedicação de Fernando Lima a esta nova revista para graduados, segundo entendemos, foi sobretudo na esfera estética – a arte, tal como a ciência, para este ilustrador é uma unidade:

“Arte e ciência não são compartimentos estanques, mas sim aspectos dum mesmo todo; visões parcelares – e reduzidas, claro – duma só unidade. É como se tivéssemos filtrado um raio de luz branca num prisma de cristal: não poderíamos dizer, em boa verdade, que essa luz fosse mais vermelha do que azul, mais amarela do que anilada, mais verde ou mais laranja do que violeta. O branco é tudo isso somado!” (Lima, 1958b:5)

A ideia de arte como uma soma de visões parcelares que culminam na unidade é, pois, uma ideia muito cara no Regime: o Estado Novo é a garantia da independência e unidade da nação, do equilíbrio de todos os seus valores orgânicos e da aliança de todas as energias criadoras.

A este respeito, Lima (1958 a:7) afirma que “não procuremos coisas esquisitas; procuraremos coisas boas. O que é novo não é, por simples definição, bom.” Existe, efetivamente, a necessidade de procurar o bom e único. Esta valoração é, pois, acompanhada a noção e patriotismo, onde gentes e terras são exaltadas:

“Se acham bem, eu chamaria a isto [2.º Encontro Nacional dos Graduados em Viseu] formação portuguesa – o amor às terras e às gentes, e ao que estas conseguiram daquelas para chegar ao que nós somos: é por raízes ao sol; mostrar que continua onde muitos creem e afirmam que só começa.” (Lima, 1958:7)

Fernando da Silva Lima assinou as suas criações de formas distintas: F. Silva Lima, F.S.L., FL, e, finalmente, F.S. Lima. Este ilustrador foi responsável por cerca de 30% das ilustrações da publicação periódica Guião. As suas ilustrações versavam sobretudo cenas de acampamentos da Mocidade Portuguesa e jogos de xadrez. Não admira, portanto, que na década de oitenta Fernando Lima tivesse constituído uma associação – Grupo de Xadrez de Macau – registada a 9 de março de 1987 no 2.º Cartório Notarial de Macau para divulgar e desenvolver o xadrez em todas as modalidades e componentes culturais, desportiva e recreativa (Cf. 2.º Cartório Notarial de Macau, 1987).

Fernando Lima, no Guião demonstrou ser um ilustrador eclético, ilustrou as hierarquias dos filiados da Mocidade Portuguesa (Guião, N. 13, 1951:8-9), projetou, ainda, problemas de xadrez (Guião, N. 17-22), para além de desenhar vivências humorísticas e nacionalistas da Organização.

O arquiteto Lima nas suas ilustrações projeta linhas rápidas e curvilíneas, numa estética despojada de pormenores mas ondulante, onde o homem e/ou as sua obras estão sempre presentes. As ilustrações ganham autonomia e, desta forma, trespassam as mensagens escritas – exibem-se, assim, imagens em movimento e repletas de humor, como são o caso dos peixes de guarda-chuva (Guião, N. 18, 1952:20), o acertar do relógio (Guião, N. 17, 1952:19), o que vale são os enfermeiros (Guião, N. 11, 1951:14).

P. M. 
  

Bibliografia:

 

2.º CARTÓRIO NOTARIAL DE MACAU (1987). Anúncio: Grupo de Xadrez de Macau [em linha]: escritura lavrada em 9 de Março de 1987, a fls. 39 e segs. do livro de notas n.º 433-A, do 1.º Cartório Notarial de Macau.

[Consult. Nov. 2015]

LIMA, Fernando (1958). “Ao chegar: encontro 58.” in: Talha-mar: jornal dos graduados, N. 8 (julho 1958), p. 1-7

 

______________ (1958a). “Linhas de rumo: acampar.” in: Talha-mar: jornal dos graduados, N. 11 (setembro 1958), p. 1-7.

______________ (1952). “Sou capaz!” in: Guião: revista para graduados,  N. 20 (out./nov. 1952), p. 9, 18.

______________  (1958). “Tema à espera: 10 amigos.” in: Talha-mar: jornal dos graduados, N. 3 (maio 1958b), p. 5.

 

SILVA, Susana Maria Sousa Lopes (2011). A ilustração portuguesa         para a infância no século XX e movimentos artísticos: influências mútuas, convergências estéticas [em linha]: [S.l.: Susana M.S.L. Silva], 2011. (Tese de doutoramento em Estudos da Criança (ramo de conhecimento em Comunicação Visual e Expressão Plástica). [Consult. 28 julho 2015]. Disponível em .






[1]Meccano é uma marca inglesa, do início do século XX, que ficou mais intimamente associada, a um "sistema de construção" em forma de "brinquedo educativo" que permitia a construção de mecanismos em miniatura. A marca Meccano foi usada também como nome da empresa que fabricava o brinquedo originalmente, a Meccano Ltd. O Meccano pode ser considerado um brinquedo, no entanto, ele é um sistema complexo o suficiente para também ser utilizado na criação de protótipos em projetos de engenharia.

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