Fernando Lima participou
na revista Guião a
partir da publicação número 11 de janeiro/fevereiro de 1951 até ao seu
desfecho, em 20 de setembro de 1953. Nesta publicação periódica ilustrou vários
artigos, orientou a secção Manta de
retalhos (sobre atividades culturais diversas) e também desempenhou funções de redator.
Enquanto redator, destacamos o conto Sou capaz: um problema em que não se repara,
onde Fernando Lima (Lima, 1952:9) ressalta a permeabilidade dos jovens para
o ato de aprendizagem orientada: “serão […] práticas miúdas que levarão ao
auto-convencimento: – ‘sou capaz!’ e, daí, à confiança em si indispensável […].”
Lima (1952:18) verifica que uma das pedagogias mais eficazes para a formação de
graduados é, pois, o uso de formulações doutrinárias pré-estabelecidas pelo
Regime, tal como no sistema de construção em série Meccano[1]:
“Começaremos
pela experienciazinha barata (entenda-se por tal a que não envolve riscos de
qualquer espécie). Servem perfeitamente a construção de engenhocas (género ‘Meccano’
ou outras muitas), o microscópio que se compra e pelo qual se desperta o
interesse pelas mil formas admiráveis do mundo maravilhoso da Natureza […]”
(Lima, 1952:9)
O Guião
findou a sua publicação em 1953, não obstante, esta publicação foi reeditava em
abril de 1958 com o nome de Talha-mar:
revista para graduados. Fernando Lima, então Comandante de Falange, assumiu
funções de diretor desta nova revista para graduados desde
o número 1 (5 abril de 1958), até ao
número 12 (20 de setembro de 1958). O Comandante de Falange Mouzaco Dias
substituiu Fernando Lima, e, assumiu funções de diretor a 4 de outubro de 1959,
com o número 13 de Talha-mar.
A dedicação de Fernando Lima a esta nova
revista para graduados, segundo entendemos, foi sobretudo na esfera estética –
a arte, tal como a ciência, para este ilustrador é uma unidade:
“Arte
e ciência não são compartimentos estanques, mas sim aspectos dum mesmo todo;
visões parcelares – e reduzidas, claro – duma só unidade. É como se tivéssemos
filtrado um raio de luz branca num prisma de cristal: não poderíamos dizer, em
boa verdade, que essa luz fosse mais vermelha do que azul, mais amarela do que
anilada, mais verde ou mais laranja do que violeta. O branco é tudo isso somado!”
(Lima, 1958b:5)
A ideia de arte como uma soma de visões
parcelares que culminam na unidade é, pois, uma ideia muito cara no Regime: o
Estado Novo é a garantia da independência e unidade
da nação, do equilíbrio de todos os seus valores orgânicos e da aliança de
todas as energias criadoras.
A este respeito, Lima (1958 a:7) afirma
que “não procuremos coisas esquisitas; procuraremos coisas boas. O que é novo
não é, por simples definição, bom.” Existe, efetivamente, a necessidade de
procurar o bom e único. Esta valoração é, pois, acompanhada a noção e
patriotismo, onde gentes e terras são exaltadas:
“Se
acham bem, eu chamaria a isto [2.º Encontro Nacional dos Graduados em Viseu]
formação portuguesa – o amor às terras e às gentes, e ao que estas conseguiram
daquelas para chegar ao que nós somos: é por raízes ao sol; mostrar que
continua onde muitos creem e afirmam que só começa.” (Lima, 1958:7)
Fernando da Silva Lima assinou as suas
criações de formas distintas: F. Silva Lima, F.S.L., FL, e, finalmente, F.S.
Lima. Este ilustrador foi responsável por cerca de 30% das ilustrações da
publicação periódica Guião. As suas
ilustrações versavam sobretudo cenas de acampamentos da Mocidade Portuguesa e jogos
de xadrez. Não admira, portanto, que na década de oitenta Fernando Lima tivesse
constituído uma associação – Grupo de Xadrez de Macau – registada a 9 de março
de 1987 no 2.º Cartório Notarial de Macau para divulgar e desenvolver o xadrez
em todas as modalidades e componentes culturais, desportiva e recreativa (Cf. 2.º
Cartório Notarial de Macau, 1987).
Fernando Lima, no Guião demonstrou ser um ilustrador eclético, ilustrou as hierarquias
dos filiados da Mocidade Portuguesa (Guião, N. 13, 1951:8-9), projetou, ainda, problemas
de xadrez (Guião, N. 17-22), para além de desenhar vivências humorísticas e
nacionalistas da Organização.
O arquiteto Lima nas suas ilustrações
projeta linhas rápidas e curvilíneas, numa estética despojada de pormenores mas
ondulante, onde o homem e/ou as sua obras estão sempre presentes. As ilustrações
ganham autonomia e, desta forma, trespassam as mensagens escritas – exibem-se,
assim, imagens em movimento e repletas de humor, como são o caso dos peixes de guarda-chuva (Guião, N. 18, 1952:20),
o acertar do relógio (Guião, N. 17,
1952:19), o que vale são os enfermeiros
(Guião, N. 11, 1951:14).
P. M.
Bibliografia:
2.º CARTÓRIO NOTARIAL DE
MACAU (1987). Anúncio: Grupo de Xadrez de Macau [em linha]: escritura lavrada
em 9 de Março de 1987, a fls. 39 e segs. do livro de notas n.º 433-A, do 1.º
Cartório Notarial de Macau.
LIMA,
Fernando (1958). “Ao chegar: encontro 58.” in: Talha-mar: jornal dos graduados, N. 8 (julho 1958), p. 1-7
______________
(1958a). “Linhas de rumo: acampar.” in: Talha-mar:
jornal dos graduados, N. 11 (setembro 1958), p. 1-7.
______________
(1952). “Sou capaz!” in: Guião: revista
para graduados, N. 20 (out./nov.
1952), p. 9, 18.
______________
(1958). “Tema à espera: 10 amigos.” in: Talha-mar: jornal dos graduados, N. 3 (maio
1958b), p. 5.
SILVA,
Susana Maria Sousa Lopes (2011). A
ilustração portuguesa para a
infância no século XX e movimentos artísticos: influências mútuas,
convergências estéticas [em linha]: [S.l.:
Susana M.S.L. Silva], 2011. (Tese de doutoramento em Estudos da Criança (ramo
de conhecimento em Comunicação Visual e Expressão Plástica). [Consult. 28 julho
2015]. Disponível em
.
[1]Meccano é uma marca inglesa, do
início do século XX, que ficou mais intimamente associada, a um
"sistema de construção" em forma de "brinquedo educativo"
que permitia a construção de mecanismos em miniatura. A marca Meccano
foi usada também como nome da empresa que fabricava o brinquedo originalmente,
a Meccano Ltd. O
Meccano pode ser considerado um brinquedo, no entanto, ele é um sistema
complexo o suficiente para também ser utilizado na criação de protótipos em
projetos de engenharia.