2014/08/22

António Aurélio da Costa Ferreira - pioneiro e atual




 António Aurélio da Costa Ferreira

¾ pioneiro e atual ¾







“A questão dos atrasados mentais, dos anormais profundos, deu à colaboração médico-pedagógica um valor incontestável. Costa Ferreira é, sem dúvida, a presença mais visível no campo da Médico-Pedagogia, aspecto que acaba por explicar e justificar o momento da criação da Colónia Agrícola e do Instituto Médico-Pedagógico. Trata-se de laboratórios onde se experimentam os métodos recentemente importados do estrangeiro” (Ribeiro, 2010:220).





Há um profundo reconhecimento, até à atualidade, do papel pioneiro e psicopedagógico de António Aurélio da Costa Ferreira. Em Viver a diferença, (Ribeiro, 2010:220), entre outros estudos, é ressaltada a visibilidade científica e humana do Psicopedagogo. Apesar de morrer com 43 anos de idade, António Aurélio da Costa Ferreira deixou-nos uma vastíssima obra em vários domínios do conhecimento, desde a literatura até à pedagogia.

“A morte do Dr. António Aurélio da Costa Ferreira, foi primeiramente sentida no nosso meio clínico e pedagógico, mas julgamos que no Instituto Medico-Pedagógico da Casa Pia de Lisboa, ela o foi de uma forma direta. […] a sua notável competência de homem de sciencia, o seu génio clinico e as suas excepcionais qualidades de professor (para nós fundamentais no espirito do Dr. Costa Ferreira) dando á sua sciencia predilecta, a anthropologia, a sua aplicação á clinica e á pedagogia” (BIMPCPL, 1922:1).

O Boletim do Instituto Médico-Pedagógico da Casa Pia de Lisboa homenageia o seu fundador e diretor, numa edição de 1922 (A. 2, Nº 5/6, jun./set.), por motivo da sua morte, com as seguintes palavras: notável competência de homem de ciência, o seu génio clinico e as suas excecionais qualidades de professor. Efetivamente, como educador, desempenhou um papel importante na Direção da Casa Pia de Lisboa, na formação de professores, na reabilitação e integração de crianças com necessidades educativas especiais, na promoção da laicização do ensino e na divulgação do movimento da “Escola Nova” em Portugal.

António Aurélio da Costa Ferreira, provedor na 1ª República, foi pioneiro da psicologia do desenvolvimento e da psicologia escolar, defendendo a prévia detecção das aptidões de cada aluno, numa antecipação daquilo que viria a ser a orientação vocacional e profissional” (Xavier, 2007).


Na revista do Diário de Noticias da Madeira, do dia 18 de janeiro de 2004, e reposto no wordpress Passos da Calçada em 2007, o madeirense Veríssimo (2004) faz um retrato biográfico de Autrónio Aurélio da Costa Ferreira: há 135 anos nasceu, na freguesia de Santa Luzia do concelho do Funchal, António Aurélio da Costa Ferreira, médico, antropólogo, professor e pedagogo de renome, com lugar de relevo na História da Educação em Portugal. Concluiu a instrução primária em Viana do Castelo. Contudo, fez o curso liceal na cidade onde nasceu. Durante este período da sua vida, recebeu forte influência, quanto ao gosto pela leitura e escrita, do seu tio materno, João Joaquim de Freitas, distinto professor de Literatura e Língua Portuguesa no nosso Liceu e bibliotecário da Biblioteca Municipal do Funchal.
 
Em 1894, António Aurélio matriculou-se na Universidade de Coimbra para cursar Filosofia, tendo-se licenciado em 1899. No ano seguinte, inscreveu-se em Medicina, curso que terminou em 1905. Recebeu vários prémios nas duas faculdades. Como médico, estagiou em Paris, Bruxelas e Lisboa.

Vereador republicano na Câmara Municipal de Lisboa, de 1908 a 1911, defendeu várias medidas no âmbito da Educação, Cultura, Desporto Escolar e assistência médica e social às crianças desfavorecidas do concelho. No âmbito da atividade política, é de salientar a sua eleição como deputado em Agosto de 1910, por Setúbal, e em 1911, pelo círculo do Funchal. Exerceu também funções de Ministro do Fomento, de Junho de 1912 a Janeiro de 1913. No entanto, esta passagem pelo governo corresponde à sua desilusão com a política ativa.

Nomeado para Diretor da Casa Pia de Lisboa em Março de 1911, Costa Ferreira norteou a sua atuação dentro dos propósitos da “Escola Nova”, concedendo plena liberdade às crianças e encaminhando-as para as artes e ofícios conforme as aptidões demonstradas. Incentivou igualmente as aulas de trabalhos manuais, música e desporto.

No âmbito da formação de professores, lecionou Pedologia, Higiene Geral e Higiene Escolar na Escola Normal de Lisboa, a partir de 1915. Costa Ferreira entendia que o tempo do mestre-escola estava ultrapassado. Já não bastava ensinar a ler, escrever e contar. O futuro professor deveria, por isso, possuir conhecimentos sobre Pedologia, Higiene Escolar, Trabalhos Manuais e Ginástica. A individualização do ensino e a importância do desenvolvimento dos sentidos mereceram também a sua atenção.

Por outro lado, há que referir a sua dedicação às crianças com necessidades educativas especiais, principalmente na Casa Pia de Lisboa. Desenvolveu, assim, vários esforços conducentes à reabilitação, ensino e integração social dos, então, designados por “anormais pedagógicos”, gagos e surdos-mudos. Para os “anormais pedagógicos”, criou, em 1912, a Colónia de S. Bernardino, em Atouguia da Baleia, próximo de Peniche. No ano seguinte, dedicou-se ao curso de formação de professores para surdos-mudos.


Em 1915, funda o Instituto Médico-Pedagógico, na freguesia de Santa Isabel. Este Instituto enquadra-se no projeto de desenvolvimento de uma pedagogia científica em Portugal, no âmbito do movimento da “Educação Nova”, pela qual também pugnavam António Sérgio, Adolfo Lima, Álvaro Viana de Lemos, Joaquim Tomás e Faria de Vasconcelos, entre outros.

Em sua homenagem, a partir de 1929, o Instituto Médico-Pedagógico da Casa Pia de Lisboa recebeu a denominação de Instituto António Aurélio da Costa Ferreira, seu fundador. Igualmente, o seu nome está associado ao Instituto de Inovação Educacional.

No relatório Surdocegueira: um modelo de Intervenção, resultante de um ciclo de semanários realizados em lisboa, novembro de 2013, com participantes da Casa Pia e da Universidade Lusíada de Lisboa (Antunes, 2013:9-10), são descritas competências e valências atuais do Centro de Educação e Desenvolvimento António Aurélio da Costa Ferreira:
“[…] que o CED António Aurélio da Costa Ferreira se constitua como um possível parceiro de intervenção numa dinâmica de saberes e competências que permitam o desenvolvimento global e facilitação da integração das pessoas surdocegas nos seus contextos de vida […]. Em Portugal, nos anos 60, a oferta de educação para crianças e jovens com deficiência era ainda muito insuficiente. Somente se mantinham nas escolas regulares as designadas classes especiais, o Instituto António Aurélio da Costa Ferreira (AACF), e algumas estruturas da Segurança Social. O Instituto AACF, desenvolveu um importante papel na educação especial das crianças que não se encontravam dentro dos padrões da normalidade, durante a Ditadura Nacional implementada a partir do golpe militar no ano 1926 e, também, na formação de professores especializados” (Antunes, 2013:9-10).


Atendendo à formação disponibilizada no Site da Casa Pia (Casa Pia de Lisboa, 2014), verifica-se que a missão do então Instituto António Aurélio da Costa Ferreira, agora Centro de Educação e Desenvolvimento António Aurélio da Costa Ferreira, não morre, ao invés, amplia a sua função para fazer face à dificuldade dos novos tempos, assim, as suas linhas de ação estendem-se a:

§  Resposta educativa e formativa ao nível de educação e reabilitação;
§  Respostas sociais – Centro de Atividades Ocupacionais (CAO);
§  Respostas Sociais de Lar Residencial;
§  Respostas formativas – Formação e Qualificação de adultos/as com deficiência e incapacidade;
§  Unidade de formação de curta duração.




Usando as palavras textuais da missão do atual Centro de Educação e Desenvolvimento António Aurélio da Costa Ferreira (Casa Pia de Lisboa, 2014), verificamos que este é um equipamento da Casa Pia de Lisboa que se destina à Educação e Reabilitação de crianças, jovens e adultos surdo-cegos, na sua resposta localizada na Freguesia de Alvalade, e, também, à Formação e Qualificação de Adultos com Deficiência na sua resposta localizada na Freguesia de Belém.

“O CED AACF é um Centro dinâmico, ativo e proativo, com vários projetos globais em andamento “ (Candeias e Martinho, 2012:3).

Como verificamos, (Cf. Candeias e Martinho, 2012:3),a intervenção do Centro de Educação e Desenvolvimento AACF não se restringe à população local, constituindo-se como uma resposta única ao nível nacional, definindo como destinatários as pessoas com deficiência sensorial, designadamente surdo-cegas.

O CED António Aurélio da Costa Ferreira tem como objetivo desenvolver programas de reabilitação, formação e integração de crianças e jovens com deficiência, designadamente as crianças e jovens surdo-cegos, com vista à sua reabilitação e inclusão educativa, ocupacional, profissional e social.

Para o cumprimento do seu objetivo, dotou-se da mais avançada técnica no domínio da reabilitação de indivíduos surdo-cegos, indispensáveis em alguns casos para a melhoria da qualidade de vida em aspetos básicos como o acesso à informação, mobilidade, controle do ambiente e, acima de tudo, comunicação.

Em Julho de 2012 de surge o Jornal do Aurélio (Ano 1, Nº 1, julho 2012), este dedica o seu conteúdo a reflexões sobre deficiências várias à descrição de vivências do CED António Aurélio da Costa Ferreira da Casa Pia de Lisboa e a curiosas reportagens. É com agrado que apresentamos a página de entrada de Jornal do Aurélio e toda a equipa envolvida:





JORNAL DO AURÉLIO
Jornal do CED António Aurélio da Costa Ferreira da Casa Pia de Lisboa
Rua Alberto Oliveira
1700 - 020 Lisboa
Tel.: 21 793 59 63
Fax: 21 793 48 40
E-mail: sec.aurecliocferreira@casapia.pt




FICHA TÉCNICA
DIREÇÃO: Madalena Antunes

ORGANIZAÇÃO EDITORIAL Fátima Martinho

COLABORARAM NESTA EDIÇÃO
Professores: Ângelo Caetano, António Martins, Cláudia Pereira, Isabel Cerdeira, Isabel
Valdeira, Rita Ribeiro.
Educadoras de Infância: Paula Liques, Rita Mora.
Técnicos: Alexandra Silveira, Daniela Custódio, Dina Candeia, Fátima Martinho, Manuel
Morgado, Patrícia Santos.
Intérprete de LGP: Sofia Figueiredo
Assistentes Técnicos: Francisco Gonçalves, Vítor Santos.

PAGINAÇÃO E GRAFISMO Fátima Martinho
REVISÃO: Cláudia Pereira

FOTOGRAFIA Cláudio Ferreira, Daniela Custódio, Fátima Martinho, Rita Mora, Rita Ribeiro,
Gabinete de Comunicação da C.P.L.



BIBLIOGRAFIA:




ALGUMAS PALAVRAS SOBRE O DR. AURÉLIO DA COSTA FERREIRA. (1922). Boletim do Instituto Médico-Pedagógico da Casa Pia de Lisboa; A. 2, N. 5/6 (Jun.-Set. 1922), p. 1-3.


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